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      Claudia Calais - Diretora executiva da Fundação Bunge

      Cláudia Buzzette Calais é jornalista graduada pela Universidade Federal do Espírito Santo – UFES, pós-graduada em comunicação empresarial pela Fundação Cásper Líbero, com MBA em Gestão em Sustentabilidade pela Fundação Getúlio Vargas.

      Nas suas atividades profissionais sempre se dedicou às questões voltadas às áreas de responsabilidade social e sustentabilidade.

      Iniciou suas atividades na Bunge em 2001 e atualmente é diretora-executiva da Fundação Bunge, entidade social da Bunge no Brasil, criada em 1955 que tem como objetivo a promoção e valorização do conhecimento, das pessoas, da diversidade e do meio ambiente.

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    Combate ao desemprego jovem requer engajamento das empresas e um novo pacto federativo pela educação

    De todas as facetas da crise social brasileira, uma das mais dramáticas é a do desemprego entre jovens. Enquanto o país registra um índice geral de desocupação na casa dos 9%, o desemprego entre pessoas de 18 a 24 anos está em mais de 19%, segundo dados do IBGE referentes ao 2º trimestre deste ano.

    A sociedade brasileira precisa urgentemente trabalhar em torno de uma solução para este problema. Quaisquer que sejam as medidas adotadas, elas devem, necessariamente, contemplar duas ações codependentes: aumentar a empregabilidade do jovem sem experiência prévia e investir na educação para essa faixa etária.

    Comecemos por esse segundo ponto. O último Enem registrou somente 3,4 milhões de inscritos. O número foi similar ao de 2021: 3,1 milhões de inscritos. Foram, consecutivamente, as duas menores taxas de comparecimento desde a criação do exame, em 2005. A título de comparação, o Enem de 2016 teve mais de 8 milhões de inscritos.

    Longe de ser anedótico, esse número ilustra o nível de desamparo e falta de perspectiva de futuro do jovem brasileiro. O país tem hoje 11,6 milhões de pessoas de 15 a 29 que nem estudam, nem trabalham – os chamados “nem-nem” –, o que representa 23,7% do total de jovens nessa faixa etária. É o dobro do registrado em países desenvolvidos.

    Como reverter esse processo? Em primeiro lugar, precisamos refundar o pacto federativo da educação. Embora a gestão dos ciclos básicos caiba majoritariamente aos estados e municípios, o governo federal, por intermédio do Ministério da Educação, precisa coordenar esse processo e apoiar estados e munícipios a enfrentar os desafios, que já eram enormes e aumentaram ainda mais depois da pandemia de Covid-19.

    O Brasil precisa recuperar a capacidade de se planejar e estabelecer prioridades nessa área e dar maior atenção ao ensino técnico profissionalizante. Após anos de um modelo baseado na expansão do ensino superior, em especial do privado, nossos gestores precisam de certa maneira redescobrir o valor dos cursos técnicos, que habilitam o jovem para o mercado de forma objetiva, especializada, de forma a contribuir com o combate da evasão escolar e oferecer uma perspectiva de inclusão do jovem no mercado de trabalho. O fator tempo também é preponderante. Os cursos técnicos possibilitam aos jovens a obtenção da formação em curtos períodos o que ajudaria aos que precisam se evadir das escolas porque precisam trabalhar para ajudar na renda familiar.

    Obviamente, que essa aposta não pode ser feita sem planejamento. Cabe ao Estado identificar as principais demandas de uma região para só então investir na formação de novos profissionais, bem como fechar parcerias com empresas e entidades dispostas a oferecer cursos nas áreas escolhidas. Para que o ensino técnico funcione de fato como fator de emancipação do jovem brasileiro, ele precisa estar conectado às demandas econômicas do país.

    Isso nos colocaria a meio caminho de reduzir o desemprego jovem. O restante da jornada depende do engajamento sério das empresas no desenvolvimento desses futuros colaboradores.

    Durante décadas, o mercado de trabalho funcionou, essencialmente, como uma via de mão única: as empresas selecionavam e contratavam profissionais “prontos”, com todas as qualificações necessárias para exercer determinada função. Cabia ao profissional adquirir as habilidades e conhecimentos exigidos pelos empregadores.

    Com a aceleração das transformações econômicas na era digital, esse modelo se torna obsoleto, de modo que as empresas precisam investir muito mais na qualificação e atualização de seus próprios quadros. Esse é também um modus operandi mais alinhado à agenda ESG (Environmental, Social and Governance em inglês), que delega às instituições privadas um papel ativo nos processos de melhoria social.

    O aumento da empregabilidade do jovem passa, também, por uma transformação na maneira como as empresas contratam. Ao invés de buscar o currículo ideal, as companhias precisam investir na busca por pessoas com o perfil ideal para determinada posição, compreendendo que a qualificação técnica pode ser complementada após a contratação, em parceria com a empresa.

    Esses são caminhos possíveis para o enfrentamento do desemprego jovem. Trata-se, afinal, não apenas de um problema econômico, mas de uma aposta necessária ao futuro do país. E o futuro de um país onde a maioria da sua população é pobre passa por um pacto entre Estado, setor produtivo e sociedade civil na direção da inclusão.

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