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    Remuneração de brancos é 68,7% maior do que de trabalhadores negros, diz instituto

    Segundo pesquisa da economista Janaína Feijó, 61,3% da população que ganha até dois salários mínimos é composta por pretos e pardos

    Pauline Almeidada CNN , Rio de Janeiro

    O rendimento médio dos trabalhadores brancos e amarelos, no segundo trimestre deste ano, foi 68,7% maior do que o de pretos e pardos – R$ 3.533 contra R$ 2.095, respectivamente. Os dados são de uma pesquisa divulgada pelo Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas (FGV Ibre).

    O levantamento tem como base os microdados da última Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua divulgada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

    Segundo o estudo coordenado pela economista Janaína Feijó, mesmo após “conseguir ultrapassar as barreiras socioeconômicas para conseguir um emprego, a população preta/parda tende a se concentrar em postos de trabalho que pagam mal”.

    Dos 99,3 milhões de trabalhadores ocupados no mercado de trabalho brasileiro, o levantamento do FGV Ibre aponta que 66 milhões deles ganham até dois salários mínimos. Desses, 40,4 milhões, ou seja, 61,3%, são negros.

    A desigualdade se repete no trabalho informal. Segundo a pesquisa, dos 39,1 milhões de informais no país, 61,3% são pretos e pardos (cerca de 24 milhões). Entre julho e setembro deste ano, o rendimento dos autodeclarados negros era de R$ 1.289, enquanto o de brancos e amarelos, R$ 2.238.

    No terceiro trimestre de 2022, a taxa de informalidade entre os negros (44,5%) continuou mais elevada em relação à de amarelos e pardos – de 33,3%. O número de informais pretos e pardos inclusive cresceu no último ano, passando de 23,1 milhões, no terceiro trimestre de 2021, para 24 milhões no mesmo período de 2022, o segundo maior nível desde 2016.

    Os estados que concentram as maiores taxas de informalidade entre pretos e pardos estão no Norte e Nordeste. No Pará, por exemplo, a cada dez trabalhadores negros, 6,3 estão na informalidade, enquanto em Santa Catarina, essa proporção é de 2,6.

    “A pesquisa mostra que os negros, como estão alocados em sua maioria em empregos informais, tendem a depender muito do desempenho da economia e são os primeiros afetados quando algo não vai bem, como aconteceu na pandemia”, colocou Janaína Feijó à CNN.

    Os negros também são maioria entre os desalentados – aqueles que não procuram emprego porque não têm esperanças de encontrar. O número dessa população caiu 27% no país em um ano, passando de 4.690.698, no terceiro trimestre de 2021, para 4.258.257 no mesmo período de 2022. No entanto, 72,7% (3,1%) são pretos e pardos.

    “Isso mostra a falta de perspectiva desses indivíduos na condição social, econômica”, destaca a pesquisadora.

    Janaína Feijó avalia que o resultado da pesquisa mostra que, apesar da melhora do mercado de trabalho, já que o número de desempregados passou de 13,5 milhões para 9,5 milhões em 12 meses, o olhar sobre a desigualdade racial mostra que um problema persiste.

    A taxa de desemprego entre pretos e pardos até caiu mais entre o terceiro trimestre de 2021 e 2022 – 4,3 p.p., indo de 14,5% para 10,2% – do que entre brancos e amarelos – com queda de 3,5 p.p., de 10,3% para 6,8%. Porém, mais de 6,1 milhões de desempregados são negros, ou seja, 64,9% da população desocupada.

    “Existe uma questão das condições socioeconômicas. Grande parte dos pretos e pardos tiveram uma baixa qualidade educacional. Existe também a dificuldade de acessar informações, de saber como se capacitar, como conseguir boas oportunidades. E tem a questão relacionada a preconceitos, que não conseguimos dimensionar, mas interfere também”, avalia Janaína Feijó.

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