Juventude, inovação e empregos verdes
Mesmo considerando os avanços tecnológicos e um efervescente cenário de iniciativas de inovação no país, que resultou na subida de cinco posições no Índice Global de Inovação (IGI), que avalia 132 países, existe uma enorme lacuna quando voltamos o olhar para a nossa juventude. Segundo o IBGE, um de cada quatro jovens entre 18 e 24 anos está desempregado, o dobro da média brasileira considerando todas as idades. Ou seja, a projeção de um futuro baseado na atual realidade da nossa juventude – com desemprego acima de 20% nos últimos seis anos – desenha uma profunda falta de perspectiva de crescimento nacional.
Em São Paulo, centro econômico e estado mais rico do Brasil, os números seguem a mesma métrica: o desemprego entre os jovens na capital chega à impressionante marca de 35%.
Falta de experiência e qualificação são as justificativas dos empregadores, mas dentro do recorte juventude existem sub-recortes associados a gênero, raça e classe, que demonstram que as estatísticas, na verdade, apenas enumeram as consequências históricas de um país cujas leis não atendem igualmente a todos e todas.
As consequências dessas desigualdades, além de perpetuar injustiças, também revertem em menos dinheiro circulando na economia e menos investimento em educação – a única porta de saída para um imenso círculo vicioso social. Segundo a Secretaria de Política Econômica, do Ministério da Economia, os jovens passam mais de dois anos procurando uma vaga de trabalho, e o impacto disso no seu desenvolvimento educacional e no próprio requisito “experiência” é inevitável. E aquele cujo futuro pulsa nas mãos, segue tendo o próprio desenvolvimento negado por uma série de fatores que se retroalimentam.
O crescimento de uma nação funciona sob as mesmas lógicas de uma grande colmeia. Por mais que a desigualdade seja a estrada por onde caminhamos como coletivo, inevitavelmente o comportamento dos grupos reverbera no equilíbrio da totalidade; por mais que uma minoria centralize recursos e acessos, sem o desenvolvimento da maioria seguiremos com os pés no freio quando o assunto é economia global. É urgente a compreensão de que, como cidadãos, precisamos olhar para a juventude brasileira como pais que olham o futuro de sua própria família: sua plena realização é o que garante que nossos investimentos e desejos de avanço estejam, de fato, dando retorno.
Dentro desse contexto, a biocapacidade planetária surge como um tema concomitante às preocupações e ações coletivas. O mundo está mudando em todos os segmentos, inovações surgem por todos os lados e mesmo que os números contradizem a relação tecnologia x empregabilidade, é fato que o pensar inovador é, além de uma forma de fomentar saídas, um aspecto inerente ao estado ambiental emergencial em que nos encontramos.
Suprir as necessidades atuais sem destruir a possibilidade de futuro toca numa questão bastante atual, que é a implementação da economia verde no Brasil. Reduzir a quantidade de emissão de poluentes na atmosfera e adequar o sistema de produção a energias renováveis, de baixo carbono e ambientalmente adequadas, é a única forma de cunharmos com alguma segurança o termo futuro.
Em meio a tais urgências, uma pesquisa recente, a Pnad Contínua (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios), aponta a importância da educação técnica dentro deste contexto, justamente por alavancar o ingresso ao mercado de trabalho. Ou seja, se unirmos as pontas da realidade do desemprego dos nossos jovens x sua importância no equilíbrio e crescimento nacional, considerando a poluição como um problema político-econômico de extrema urgência e a economia verde e sua cultura de preservação como únicas alternativas, abre-se uma janela de esperança: capacitar os jovens para o emprego verde. Profissionais preparados para a transição que exige a modernização das empresas, do governo, das indústrias e dos lares.
Considerando o caráter inovador desta geração, a educação técnica como um viés palpável para capacitação e todo o impacto das grandes cidades nos índices de poluição mundial, São Paulo se torna uma potência de transformação. O impacto positivo de políticas públicas que construam consciência ecológica com uma imensa e potente mão de obra subutilizada é promover mudanças necessárias de maneira humana e escalonada.
Da forma como vivemos, estamos operando um colapso social e ambiental precoce como a única consequência matematicamente previsível, o que torna ainda mais evidente quão importante é cuidar das pessoas, capacitar nossos jovens, o que irá, consequentemente, beneficiar a sobrevivência e todo o ecossistema.
A esperança que nos move, não somente em ano eleitoral, mas ao longo de toda uma vida de trabalho, é ver o Brasil cuidando da sua própria gente, para que ela cuide da vida do planeta inteiro.
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