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    CNN no Plural+: Invisível aos olhos da própria comunidade

    É cansativo para as pessoas bissexuais terem que provar todos os dias a sua própria orientação sexual

    Rafael Câmarada CNN , São Paulo

    Quantos amigos assumidamente bissexuais você tem?   

    Eu preciso pensar muito para chegar à conclusão que nenhum. E olha eu conheço gente.   

    Será que não sei por que não pergunto? Ou será que não pergunto por que nem me passa pela cabeça que alguém do meu círculo seja bissexual? 

    Talvez porque eu, como muita gente, logo quero enquadrar qualquer um em uma caixa: ou a pessoa é gay, ou é lésbica, ou tem a identidade de gênero trans, e todas as letras do LGBTQIAP+.  

    Opa? E o B é de que?  Acorda! Porque é cansativo para quem se declara bissexual ter que ficar provando qualquer coisa.

    Isso, além de reproduzir preconceitos, é cansativo. E principalmente para quem tem a sua orientação de gênero questionada a todo momento.

    E é por isso que no dia 23 de setembro se marca o Dia da Visibilidade Bissexual, para que principalmente a comunidade se conscientize e não questione essa orientação sexual. Para que pessoas bissexuais sejam vistas e reconhecidas como tal.  

    E pra coluna do CNN no Plural+ também contribuir com essa data tão importante, a matéria dessa vez vai ser diferente.   

    A GLAAD, uma das maiores ONGs do mundo focada na luta pelos diretos LGBTQIAP+, foi atrás de mitos que pessoas bbssexuais acabam ouvindo todos os dias. Frases que chocam pela ignorância.  

    E como aqui é um espaço para quem tem local de fala, convidamos a atriz Ana Hikari e o influencer Klébio Damas, ambos bissexuais, para comentarem esses mitos. Dar escuta a quem tem lugar de fala. 

    A atriz Ana Hikari e o influenciador Klébio Damas / Redes sociais

    “A bissexualidade é apenas uma fase antes de alguém se assumir gay ou lésbica”

    Ana – Não tem como ser uma fase, é o que a gente é por inteiro, todos os dias da nossa vida, não é um momento.

    Klébio – Era muito comum antigamente a galera fazer isso: falava que era bissexual e depois se entendia enquanto gay ou enquanto lésbica, porque na cabeça de algumas pessoas bi é menos gay. Só que isso é completamente errado e completamente equivocado. Existem pessoas bi, ser bissexual não é uma sexualidade transitória, é uma orientação de gênero em si mesma.

    “É mais socialmente aceito uma mulher bissexual do que um homem bissexual”

    Ana – Quando a mulher beija homens, mas também beija mulheres, é algo que muitos homens acham sensual, acham atrativo. E na verdade isso é um retrato de uma hiper sexualização da mulher, né? Então talvez dizer que seja mais aceito não seja o mais correto, mas talvez dizer que tem mais gente que curte porque tem isso daí para a sexualização da nossa orientação.

    Klébio – Existem visões e parâmetros diferentes, porque uma mulher bissexual também é muito fetichizada, ela é colocada num outro lugar. Já o homem bissexual é muito questionado, porque existe toda uma sociedade machista que acredita que todos os homens bissexuais na verdade são homens gays que ainda não assumiram a orientação sexual, sendo que não é assim.

    “Ninguém pode se identificar como bissexual a menos que tenha tido um relacionamento com um homem e uma mulher.”

    Ana – Não é não é a quantidade de saliva que a gente troca que define a nossa orientação sexual. É o que a gente é, o que a gente sente que define quem a gente é.

    Klébio – Vamos supor que você seja hétero. Quando você era adolescente, você sabia que você era hétero. Você já tinha ficado com uma menina e com um menino para testar? Não. Mas você sentia aquela atração, sabe? Você apenas sente, você apenas sabe. E ter que ficar reforçando isso é uma coisa muito chata.

    Ana – Não é não é a quantidade de saliva que a gente troca que define a nossa orientação sexual. É o que a gente é, o que a gente sente que define quem a gente é. 

    Klébio – Vamos supor que você seja hétero. Quando você era adolescente, você sabia que você era hétero. Você já tinha ficado com uma menina e com um menino para testar? Não. Mas você sentia aquela atração, sabe? Você apenas sente, você apenas sabe. E ter que ficar reforçando isso é uma coisa muito chata.  

    “Bissexualidade é uma justificativa para promiscuidade”

    Ana – Aí eu dou risada… mas não é para rir, né? É dramática essa informação. Não é porque uma pessoa tem a possibilidade de beijar pessoas de dois ou mais gêneros que significa que ela vai beijar todas as pessoas do mundo, né? Bissexualidade não é sinônimo de promiscuidade. Pode ser que tenham pessoas bissexuais que gostem da cachorrada e tá tudo bem – mas também tem outros heterossexuais que são da cachorrada também e as pessoas não falam isso, né?

    Klébio – Por muito tempo a bissexualidade foi relacionada à promiscuidade, só que assim gente… não dá. É uma coisa completamente pejorativa, completamente errada.

    “Uma pessoa só é bi se gostar de homens e mulheres na mesma medida”

    Ana – Se tivesse uma medida no termômetro de “Ai, hoje eu estou tantos % gostando de homem e tantos % gostando de mulher”… A verdade é que não existe uma quantidade, não existe um parâmetro correto e ideal para você definir a bissexualidade.

    Klébio – Claro que não. Você não precisa de uma balada e pegar dois homens e duas mulheres para ser bissexual, por exemplo! Gostar de gêneros diferentes é muito mais fácil. A gente só não tem que tentar colocar tanta barreira e tanta caixinha, sabe? É só você sentir, gostar e seguir sua vida.

    “Bissexuais são transfóbicos. A palavra bissexual é necessariamente um termo binário, que se refere a homens e mulheres”

    Ana – Tem muita gente também que acha que a bissexualidade é só sentir atração por dois gêneros. Ou seja, que seria uma orientação sexual completamente binarista, e é uma mentira isso. A bissexualidade não é só sobre dois gêneros, é sobre sentir atração por dois ou mais gêneros. A gente já tem conhecimento suficiente hoje em dia de que existe uma pluralidade de identidades de gênero, e eu acho que a bissexualidade também tá aí para a gente poder aceitar todos os corpos e assim como a gente pede para que nos aceitem.

    Klébio – A bissexualidade não é transfóbica. Mesmo que a pessoa goste apenas de homens e mulheres nesse espectro binário, ela também pode gostar de homens trans, mulheres trans e tá tudo certo! Não é uma coisa excludente, sabe? Quando as pessoas falam sobre panssexualidade, vai um pouco além de apenas homem e mulher, então eles têm pessoas não binárias e outras camadas que entram – mas não são situações excludentes.

    “Bissexuais têm sua sexualidade questionada por pessoas dentro e fora da comunidade LGBTQIA+”

    Ana – A gente tem a nossa sexualidade questionada por todos os lados, tanto dentro, quanto fora da comunidade. E infelizmente isso acontece porque a bissexualidade é uma orientação sexual que foi suprimida por muito tempo e que passou por uma invisibilização e ainda passa até hoje. A gente tá começando a falar mais sobre essa questão e que bom, porque eu acho que são tantas orientações, são tantas identidades, que eu acho que o que a gente merece é: debater, nomear e respeitar. 

    Klébio – Sim, porque fora da comunidade, você é visto muito como um gay enrustido. E dentro da comunidade também, as pessoas querem te provar isso o tempo todo, porque eu acredito como muitas pessoas lá atrás falaram que eram bissexuais para depois se entenderem enquanto gay ou lésbica, tem muita gente que acha que isso é uma regra, que com todo mundo vai acontecer isso. Mas não é assim que funciona, não é uma sexualidade passageira. Você apenas é.  

    • Produção: Letícia Brito e Carol Raciunas

     

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