Desempenho da arrecadação segue acima do esperado, avaliam economistas
Arrecadação maior reflete resiliência da atividade econômica e o fortalecimento do mercado de trabalho, segundo os especialistas; desempenho para 2023 segue uma incógnita
A arrecadação federal de R$ 202,588 bilhões entre recolhimento de impostos e contribuições em julho foi melhor que o esperado para o mês, segundo economistas. Na avaliação deles, o desempenho no ano vem refletindo um fortalecimento do mercado de trabalho e resiliência da atividade econômica do país.
Para Rafaela Vitoria, economista-chefe do Inter, o crescimento da economia mais forte que o esperado é o principal fator para essa arrecadação mais robusta.
“Destaque para a melhora no mercado de trabalho, que já reflete em maiores receitas previdências e Imposto de Renda. Também podemos avaliar que existe, inclusive, espaço para a correção da tabela do IR no próximo ano”, pontuou.
Tiago Sbardelotto, economista da XP, disse que o resultado surpreendeu ao ser divulgado acima do consenso do mercado (R$ 201,9 bilhões) e da projeção da XP (R$ 201,7 bilhões).
“Os números de julho foram altamente sustentados pelas receitas vinculadas aos lucros das empresas, que subiram 17,5% em termos reais na comparação com o mesmo mês do ano anterior. Isso se deve ao crescimento de 10,9% na arrecadação mensal por estimativa e de 52,1% na arrecadação de balanço trimestral”, destacou Sbardelotto.
“No acumulado do ano, o aumento da arrecadação tributária foi sustentado pelo IRPJ e CSLL, que subiram 20,8% em termos reais. Esse resultado se dá em grande parte devido a arrecadação relacionada à declaração de ajuste anual de imposto de renda, ou seja, decorre de fatos geradores do ano passado, e de arrecadações atípicas que somam R$ 30 bilhões ligadas a empresas do setor de commodities”, acrescentou.
O economista também disse que a arrecadação de impostos deve continuar em uma trajetória positiva até o fim do ano, e ressaltou a expectativa anual da XP de arrecadação total de R$ 2.183 bilhões, com viés de alta.
Por outro lado, apesar do consenso de que a arrecadação de 2022 termine positiva, o recolhimento de 2023 segue uma incógnita.
Murilo Viana, especialista em finanças públicas, declarou que o desempenho da arrecadação é surpreendente, mas a discussão passa a ser sobre o quanto esse crescimento é sustentável.
“O desempenho tem sido positivo, e alguns fatores influenciam esse resultado. Primeiro, começamos o ano com uma expectativa de mercado muito baixa, diferente da perspectiva atual de fechar o ano com crescimento em cerca de 2%. As atividades se mostraram resilientes, o setor de serviços respondeu melhor que o esperado e o desempenho das commodities tem sido bom, isso gera crescimento econômico e maior arrecadação”, destacou Viana.
“No entanto, o governo tem tomando uma série de medidas de desoneração, de cortar tributos, e aí tem uma discussão se é algo estrutural ou conjuntural. Se for estrutural, podemos esperar resultados bons de arrecadação para o próximo ano também, mas há fortes indícios de que esse desempenho venha de uma série de fatores conjunturais, como no caso das próprias commodities, que são voláteis”, concluiu.