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    Lira na economia, Valdemar nos costumes

    Não há dúvidas que há demanda social suficiente no país para programas emergências de transferência de renda, mas a motivação eleitoreira da PEC dos Benefícios é tão despudorada que sequer é negada

    Alexandre Borges

    O governo federal conseguiu, sejamos francos, um feito inédito: colocou Brasília para trabalhar unida pela reeleição. Com a Procuradoria-Geral da República (PGR) em sono criogênico e com a prestimosa ajuda do ministro André Mendonça, que derrubou liminar contrária no Supremo Tribunal Federal (STF), os profissionais da política nunca estiveram tão à vontade. A cereja do bolo será a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) “Kamikaze”, apelido dado pela equipe econômica do ministro Paulo Guedes, que vai liberar mais de R$ 40 bilhões do orçamento a menos de três meses da eleição. Alguém ainda se lembra do slogan “Menos Brasília, Mais Brasil”?

    O rolo compressor da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), para a aprovação da PEC na Casa, com direito a sessão-relâmpago de um minuto, iniciada 6h30 da manhã desta quinta-feira (7) pelo deputado Lincoln Portela (PL-MG) e sem dar direito a nenhum dos oradores inscritos falarem. O próprio relator da PEC, deputado Danilo Forte (União Brasil-CE), num passe de mágica, desistiu de alterar o texto herdado, acelerando ainda o processo de aprovação. União é isso.

    O rito segue o padrão regimental e moral iniciado no Senado, que aprovou o texto da PEC em duas votações na mesma noite, uma perversão completa do preceito constitucional que prevê dois turnos exatamente para que a matéria possa ser debatida após a primeira votação em tempo suficiente para haver algum tipo de reversão do resultado final. Nada menos que 72 senadores, de um total de 81, votaram a favor da alteração na Carta Magna. A única e honrosa posição contrária foi de José Serra (PSDB-SP).

    Não há dúvidas que há demanda social suficiente no país para programas emergências de transferência de renda, mas a motivação eleitoreira é tão despudorada que sequer é negada. Até Paulo Guedes, um dia considerado liberal, declarou que é mais um ato da “mão amiga do governo” para socorrer os mais necessitados. A mão invisível do mercado, citada por Adam Smith, agora dá lugar à mão generosa do estado. Devo ter pulado esse trecho na obra de Milton Friedman.

    A boa vontade do Congresso se explica pelas infames emendas do relator, que movimentarão a bagatela de R$ 16 bilhões neste ano, criando uma máquina eleitoral com dinheiro público jamais vista no país. Os acordos são feitos com a fluidez necessária por um governo de um ex-deputado do Centrão que sabe perfeitamente como Brasília funciona. E mesmo que tenha esquecido, tem a colaboração de Ciro Nogueira (PP-PI), Ricardo Barros (PP-PR), Valdemar Costa Neto (PL-SP) e Arthur Lira para lembrar.

    A oposição, sócia da patranha, acredita que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) está tão folgado na liderança que pode se dar ao luxo de entregar ao adversário uma quantia estonteante e sem precedentes de recursos. É como estar ganhando um jogo de 1 a 0 e, no intervalo, poupar os titulares e colocar os reservas em campo.

    Jair Bolsonaro (PL) venceu sete eleições seguidas para deputado e, na primeira tentativa presidencial, venceu com 57 milhões de votos. Até hoje, todo presidente que tentou a reeleição após a redemocratização conseguiu. Até agora, todos que apostaram contra o atual presidente perderam. A oposição está dando o passo mais arriscado que se pode dar. Se Bolsonaro se reeleger, o Brasil saberá a quem culpar.

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