Walter Salles comenta vitória no Oscar: “Resistir é importante”
Diretor de "Ainda Estou Aqui" falou à CNN Brasil sobre reconhecimento da cultura brasileira e importância de Fernanda Torres e Fernanda Montenegro


Walter Salles comentou a vitória de “Ainda Estou Aqui” como melhor filme estrangeiro no Oscar 2025. A repórter da CNN Cleide Klock, que está na cerimônia no Dolby Theatre, em Los Angeles, registrou o discurso do diretor, primeiro brasileiro a receber uma estatueta da Academia.
“Demoramos sete anos para chegar aqui. Desde o início, sabíamos que o filme era necessário. Então a nossa jornada foi sobre memória e traçar novamente a história dessa família, assim como a do país todo. Acredito que essa mulher maravilhosa, nossa protagonista Eunice Paiva, continua nos guiando e nos protegendo hoje”, começou.
“Ao mesmo tempo, Fernanda Torres e Fernanda Montenegro são duas atrizes brasileiras extraordinárias que nos mostram que resistir é importante. Elas resistiram e floresceram a partir disso. Isso é por elas“, acrescentou.
Questionado sobre o público estrangeiro que não é familiarizado com a Ditadura Militar brasileira, o diretor explicou: “O filme é primeiramente sobre a perda, como você reage a ela e lida com as injustiças que encontra pelo caminho. Essa mulher podia desistir ou abraçar a vida, e ela escolheu a segunda opção. No fim do dia, é um filme sobre isso”.
“O que aconteceu no Brasil no passado é muito próximo ao que vivemos atualmente. Foi incrível ver como Eunice articulou sua resistência como forma de afeto, com seu sorriso. Ela se recusou a desistir“, reforçou Salles.
Ele tentou continuar o discurso em português para citar a cultura nacional, mas acabou mantendo a língua inglesa. “Não é o filme que foi reconhecido, foi um país. A literatura brasileira de Marcelo Paiva foi reconhecida. O filme é liderado por Caetano Veloso, Gal Costa, Erasmo Carlos e tantos outros músicos maravilhosos cuja música deu sentido às cenas do filme. A cultura está sendo reconhecida”.
Por fim, o produtor falou sobre seus objetivos técnicos com “Ainda Estou Aqui”. “Tentei recriar a memória dos anos 1970 e parte disso consegui realizar ao fugir do digital e abraçar as câmeras como a de 35mm e artifícios daquela época sem interferências. A memória foi o coração do projeto. Vivemos em um momento em que a memória tenta ser apagada como um projeto, um instrumento de poder. O jornalismo, a literatura, músicas e filmes criam memórias“, encerrou.