Moraes mandou grampear telefones de Cid após PF apontar contradições
Delegado afirmou ao ministro que o tenente-coronel “omitiu informações relevantes para o esclarecimento dos fatos investigados, em tentativa de minimizar a gravidade dos fatos”


O ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), determinou, em novembro do ano passado, o monitoramento das linhas telefônicas e das visitas do tenente-coronel Mauro Cid depois de a Polícia Federal (PF) apontar contradições em sua delação premiada.
O militar prestou depoimento à PF no dia 19 de novembro. O delegado Fábio Alvarez Shor, responsável por conduzir a investigação, afirmou ao ministro que Cid “omitiu informações relevantes para o esclarecimento dos fatos investigados, em tentativa de minimizar a gravidade dos fatos”.
O tenente-coronel havia dito em sua delação que os militares Rafael Martins de Oliveira e Hélio Ferreira Lima haviam participado da reunião na casa do general Braga Netto na qual teria sido discutido o plano golpista a ser realizado pelos kids pretos porque “queriam dar um abraço no general Braga Netto”.
O delegado da PF afirmou a Moraes que o avanço das investigações relevou que os dois militares “tiveram participação relevante dentro do contexto de planejamento operacional realizado pela organização criminosa para a consumação de um Golpe de Estado”.
“A investigação identificou troca de interações diretas entre os investigados e Mauro Cid, o que demonstra que o colaborador tinha ciência das ações levadas a efeito”, informou ao ministro.
O delegado disse ainda a Moraes que Cid não informou em sua delação que outra reunião, realizada dias depois, “teve o objetivo de planejar e executar ações voltadas a pressionar os Comandantes do Exército a aderirem ao Golpe de Estado, para manter o então presidente da República Jair Bolsonaro no poder, além de ações para atingir o ministro Alexandre de Moraes, denominado de ‘centro de gravidade’”.
Gonet pediu prisão de Cid
No mesmo dia, o procurador-geral Paulo Gonet afirmou ao ministro que ficou “demonstrado que o colaborador omitiu dados ou buscou minimizar situações de alta gravidade, referentes a atos concretos voltados à ruptura institucional almejada pelo grupo do qual fazia parte”.
De acordo com Gonet, o descumprimento dos termos acordados torna necessária medida mais grave contra Cid. “A prisão preventiva afigura-se, assim, como única medida capaz de garantir a aplicação da lei penal e a conveniência da instrução criminal”, defendeu o procurador-geral.
Grampo e validade da delação
Moraes determinou então que Cid fosse ouvido, dois dias depois, no dia 21 de novembro, diante das contradições existentes entre seus depoimentos e as investigações realizadas pela PF.
O ministro entendeu, no entanto, que, até que a nova audiência fosse realizada, para que os esclarecimentos necessários fossem obtidos sem interferência de terceiros, seria preciso monitorar as visitas, encontros presenciais de Cid e suas linhas telefônicas móveis e fixas.
Depois de ouvir Mauro Cid no dia 21 de novembro, Moraes manteve os benefícios da delação premiada do tenente-coronel. Moraes concluiu que o militar “esclareceu as omissões e contradições” apontadas pela PF.