Abordado após evento, Lula evita comentar denúncia contra Bolsonaro
Questionado, presidente acenou, parou, olhou o relógio e disse: "é muito tarde para falar, amanhã eu falo"
Abordado após evento no Itamaraty, o presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva (PT), evitou comentar a denúncia da Procuradoria-Geral da República (PGR) contra o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) por tentativa de golpe de Estado, entre outros crimes, nesta terça-feira (18).
O mandatário estava em um jantar oferecido pelo governo brasileiro ao presidente de Portugal, Marcelo Rebelo de Sousa, e comitiva no Palácio Itamaraty, sede do Ministério das Relações Exteriores, em Brasília, quando a denúncia foi revelada.
Questionado sobre a denúncia ao final do evento, o presidente acenou, parou e olhou o próprio relógio. Então disse: “É muito tarde para falar, amanhã eu falo”.
Na sequência, Lula continuou a se despedir do presidente de Portugal. Ao ser questionado novamente sobre a denúncia, repetiu “amanhã eu falo”.
Após a despedida de Rebelo de Sousa, o presidente saiu do salão principal do Itamaraty de mãos dadas com a primeira-dama, Rosângela da Silva, e foi embora.
Internamente, assessores de Lula avaliam que ele não deve comentar a denúncia contra Bolsonaro, mas, sim, se focar nas ações do governo federal.
Ministros do governo Lula também evitaram comentar oficialmente a denúncia na saída do Itamaraty na noite desta terça.
Vários membros da alta cúpula do Executivo federal estavam no Itamaraty no momento da denúncia. Segundo relatos à CNN, algumas pessoas comentaram a notícia entre si durante o jantar, mas a maioria ainda não estava inteirada de detalhes.
O líder do governo no Congresso Nacional, senador Randolfe Rodrigues (PT-AP), disse ter recebido a notícia “com a tranquilidade necessária”. Ele ressaltou que a denúncia será o começo de um processo e que todos os direitos do ex-presidente deverão ser respeitados pelo fato de o Brasil ser uma democracia.
“Espero que seja assegurado a ele [Bolsonaro] os direitos que estão na Constituição, que só são possíveis sob a égide do Estado Democrático de Direito. Ampla defesa, contraditório e presunção de inocência.”
O líder acredita que, com a denúncia, a oposição deve se voltar mais para a defesa do projeto de lei que busca anistiar envolvidos nos atos de 8 de janeiro de 2023.
“Acho que isso acentua também as diferenças de quem tem agenda para o Brasil. A nossa agenda é aprovar as matérias que são necessárias para que o Brasil continue seu ciclo de crescimento, para que inflação seja controlada e para que o alimento na mesa do brasileiro chegue mais barato. A agenda deles é a anistia para crimes.”
“É lamentável, porque é triste ver agentes da política brasileira e forças políticas envolvidas em denúncia de crimes tão graves quanto de buscar corromper a nossa democracia. Então, não é um momento para ser celebrado, não é um momento para ser regozijado. O único desejo que fazemos neste momento é que eles tenham direito aos princípios constitucionais de defesa, que só na democracia — friso isso, só na democracia — é possível tê-los.”