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    Pedro Côrtes
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    Pedro Côrtes

    Professor titular da Universidade de São Paulo (USP) e um dos mais renomados especialistas em Clima e Meio Ambiente do país.

    A lenga-lenga e a política do mutatis mutandis

    Diante do que avalia ser “lenga-lenga” do Ibama, Lula sinaliza que a política precisa mudar o que deve ser mudado.

    A política sempre nos reserva surpresas. Julgava que a concessão da licença para exploração na Margem Equatorial fosse tema pacificado no governo. Lula, entretanto, reclamou que “não dá pra ficar nesse lenga-lenga” e pede agilidade ao Ibama. Já se cogitam nomes para substituir o presidente do órgão, mas a questão não é tão simples.

    Ordem executiva

    Na coluna de Jussara Soares, disponível no site da CNN, há um vídeo de uma entrevista que Lula deu esta semana. Nela, o presidente reclama do que avalia ser uma demora excessiva do Ibama em conceder a licença de exploração na Margem Equatorial. Disse que esse assunto deverá ser resolvido em uma reunião entre a Casa Civil e o Ibama.

    Não se trata de dar uma ordem executiva para o Ibama conceder a licença “de ofício”. É de se imaginar que o presidente não pretenda nada desse tipo. Caso uma licença “de ofício” fosse concedida, o Ministério Público poderia arguir sobre a legalidade do ato, pois não é esse o trâmite determinado pelas normas ambientais.

    Certamente, o presidente está ciente disso. Trata-se, afinal, da boa e velha pressão política intramuros. Isso ocorre usualmente, mas este caso merece uma análise mais detalhada.

    Quando uma licença ambiental é concedida, as pessoas responsáveis pela liberação assumem a responsabilidade pelo ato. Com frequência, técnicos de órgãos ambientais têm que se defender por conta própria de questionamentos no Ministério Público.

    O órgão onde o técnico está lotado não arca com nenhuma despesa de ordem judicial quando um técnico é interpelado. Eles costumam dizer que é o respectivo CPF que, afinal, consta na liberação. Portanto, a defesa cabe à pessoa física e não à pessoa jurídica.

    Mesmo que o presidente do Ibama resolvesse conceder a licença, isso não o isentaria de ser questionado ou mesmo responsabilizado em caso de algum problema ambiental decorrente do ato.
    Para dar alguma base de sustentação a um acordo que, por hipótese, perpasse procedimentos estabelecidos por norma legal, seria importante costurar algo mais amplo e que vai além de uma possível reunião entre a Casa Civil e o Ibama. Isso evitaria questionamentos futuros que poderiam embargar atividades em desenvolvimento.

    Como se depreende, pode não ser uma solução tão simples. Mas, os meandros políticos podem ter seus próprios caminhos. A ver.