Walter Salles à CNN: “Ainda Estou Aqui” é sobre a perda de uma vida roubada
A poucas semanas do Oscar, CNN entrevista o diretor sobre o filme "Ainda Estou Aqui", representante do Brasil na premiação
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O diretor de “Ainda Estou Aqui”, Walter Salles, falou à CNN sobre como o filme retrata o roubo de uma vida com o desaparecimento de Rubens Paiva, e a obrigação de Eunice Paiva em lidar com a perda.
“O filme era realmente sobre como aquela luz, aquela vida foi roubada quando o pai foi tirado deles, e a mãe teve que encarar a tragédia de lidar com uma perda”, disse o cineasta à jornalista Christiane Amanpour, da CNN.
Depois que seu marido é levado pelo regime militar, Eunice Paiva não tem escolha a não ser seguir em frente e criar seus filhos.
“Como você lida com uma perda? Ou você se sujeita a ela, ou você tenta superá-la. E ela realmente tentou superá-la”, acrescentou Salles. “Ela abraçou a possibilidade da vida. É uma decisão afirmativa de vida a que ela tomou.”
A preocupação do diretor e da atriz Fernanda Torres, que também participou da entrevista, era retratar a tragédia vivida pela família Paiva de forma digna.
“Ela [Eunice] nunca permitiu ser retratada como parte de um melodrama. Ela se recusou a isso”, disse Salles.
Fernanda Torres acrescentou: “Eu estava tentando ser fiel a ela, não fazendo da vida dela um melodrama. Isso é algo que eu e Walter dissemos, que tínhamos que ser fiéis à dignidade dela.”
“Eunice tem cinco filhos. Então, ela não pode sentar e chorar, ela não pode… Ela não tem permissão para isso”, disse Torres. “A única maneira para que ela siga em frente, crie aqueles filhos e salve a inocência deles, é simplesmente dizer ‘sorriam e sigam em frente’.”
Baseado no livro de mesmo nome escrito por Marcelo Rubens Paiva, o filme conta a história real da família do escritor quando seu pai, o ex-deputado Rubens Paiva, foi levado pelo regime durante a ditadura militar.
A partir deste momento, é Eunice Paiva quem assume o protagonismo enquanto tenta descobrir o paradeiro do marido e continua cuidando dos filhos. Eunice se tornou um dos maiores símbolos de luta dos familiares dos desaparecidos durante o regime militar no Brasil, ela se formou advogada e fez carreira como defensora dos direitos das comunidades indígenas no país.
“Ainda Estou Aqui” concorre ao Oscar 2025 em três categorias: Melhor Filme, Melhor Filme Internacional e Melhor Atriz, com Fernanda Torres. A premiação será realizada em 2 de março.
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