Fernanda Torres à CNN: história de Eunice Paiva é próxima de tragédia grega
A poucas semanas do Oscar, CNN entrevista a atriz sobre o filme "Ainda Estou Aqui", representante do Brasil na premiação
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A atriz Fernanda Torres comparou a vida de Eunice Paiva, personagem que ela interpreta no filme “Ainda Estou Aqui”, com uma grande tragédia grega, em entrevista à CNN.
O diretor do longa, Walter Salles, e a atriz brasileira falaram sobre os desafios de retratar a vida da advogada de maneira fiel em entrevista à jornalista Christiane Amanpour, da CNN.
Para os dois, a história da família Paiva se assemelha às tragédias da Grécia antiga, em que o final infeliz já está anunciado desde o início, mas as personagens precisam seguir com suas vidas mesmo após sofrer grandes perdas.
“Eunice tem cinco filhos, então, ela não pode sentar e chorar. Ela não pode”, disse Torres. “Ela não tem permissão para isso. É como se fosse uma figura grega, uma mãe grega. Ela encara a tragédia, e a única maneira para que ela siga em frente, crie aqueles filhos e salve a inocência deles, é simplesmente dizer ‘sorriam e sigam em frente’.”
“É uma família normal, mas enfrentando algo como Antígona [tragédia grega escrita por Sófocles, por volta de 442 A.C.], algo do tamanho de um destino grego, uma tragédia grega. E é isso que é tão poderoso para mim”, acrescentou a atriz.
Uma de suas maiores preocupações foi retratar a dor de Eunice de maneira digna, sem fazer com que a tragédia que abateu sua família se transformasse em um melodrama barato. “Eu estava tentando ser fiel a ela, não fazendo da vida dela um melodrama. Isso é algo que eu e Walter dissemos, que tínhamos que ser fiéis à dignidade dela”, acrescentou Torres.
Walter Salles, que é amigo próximo dos filhos de Eunice Paiva na vida real, concordou: “Ela nunca se permitiu ser retratada como parte de um melodrama. Ela se recusou a isso.”
Baseado no livro de mesmo nome escrito por Marcelo Rubens Paiva, o filme conta a história real da família do escritor quando seu pai, o ex-deputado Rubens Paiva, foi levado pelo regime durante a Ditadura Militar.
A partir deste momento, é Eunice Paiva quem assume o protagonismo enquanto tenta descobrir o paradeiro do marido e continua cuidando dos filhos. Eunice se tornou um dos maiores símbolos de luta dos familiares dos desaparecidos durante o regime militar no Brasil, ela se formou advogada e fez carreira como defensora dos direitos das comunidades indígenas no país.
“Ainda Estou Aqui” concorre ao Oscar 2025 em três categorias: Melhor Filme, Melhor Filme Internacional e Melhor Atriz, com Fernanda Torres. A premiação acontece em 2 de março.
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