Compreendendo a lógica de Trump a partir de três elementos
Abordagem do presidente dos Estados Unidos têm demonstrado compreensão específica de como moldar percepção pública sobre vários temas e recondicionar negociações
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Os movimentos políticos e a forma de comunicação de Donald Trump têm demonstrado uma compreensão específica de como moldar a percepção pública sobre vários temas e recondicionar negociações.
Ao menos três elementos-chave caracterizam a abordagem, que usualmente é vista como errática, mas que pode revelar uma visão calculada que passa por três elementos centrais: a “estratégia do caos”, a tática de “inundação de informações” (conhecida como “flood the zone”) e a manipulação da chamada “janela de Overton”, expressão consagrada no campo da Ciência Política.
A “estratégia do caos” de Trump está longe de ser aleatória.
Ao criar constantemente incerteza e conflito, ele mantém uma posição de vantagem sobre os oponentes dele.
Nas relações internacionais, isso se manifesta por meio de reversões súbitas de políticas e declarações inesperadas que mantêm outros líderes mundiais em alerta permanente.
A imprevisibilidade serve a um duplo propósito: força os adversários a reagir em vez de agir e cria um ambiente no qual as abordagens diplomáticas tradicionais se tornam pouco eficazes.
Este “caos calculado” se estende à política doméstica, em que Trump aplica pressão máxima tanto em aliados quanto em opositores.
Ao manter um estado constante de incerteza, ele impede que outros desenvolvam contra estratégias dinâmicas, permanecendo como figura central em todas as discussões. O próprio caos se torna uma ferramenta de controle.
A abordagem “flood the zone”, por sua vez, representa uma compreensão sofisticada da dinâmica da mídia contemporânea.
Ao sobrecarregar o discurso público com um fluxo constante de declarações, controvérsias e alegações, Trump cria um ambiente no qual a verificação de fatos se torna praticamente impossível, e os mecanismos tradicionais de supervisão entram em colapso.
Isso não é apenas sobre espalhar desinformação; é sobre controlar a narrativa por meio do volume e da velocidade.
A sagacidade dessa abordagem está na capacidade de esgotar tanto os recursos da mídia quanto a atenção pública.
Quando tudo é potencialmente significativo, nada pode ser examinado minuciosamente. Isso cria um ambiente favorável para minar a credibilidade institucional enquanto mantém presença constante na mídia.
Por fim, talvez o elemento mais significativo desse segundo mandato seja a capacidade de manipulação da chamada “janela de Overton” por Trump – o intervalo de ideias consideradas politicamente aceitáveis em um determinado momento.
Ao introduzir posições ou propostas extremas, ele desloca efetivamente os limites do discurso público, fazendo com que posições anteriormente impensáveis pareçam moderadas em comparação.
Esta abordagem não apenas muda o que é discutível; ela altera fundamentalmente o enquadramento político.
Quando posições extremas são regularmente introduzidas no discurso público, o centro parece se deslocar, e ideias anteriormente radicais começam a parecer razoáveis. Isso cria uma realidade na qual os limites tradicionais do discurso aceitável não se aplicam mais.
Estes três elementos trabalham em conjunto para criar uma metodologia política poderosa.
A estratégia do caos mantém os oponentes reativos, o “flood the zone” sobrecarrega os sistemas tradicionais de informação, e a manipulação da “janela de Overton” gradualmente desloca os limites do discurso político aceitável.
Juntos, eles dão origem a uma abordagem de comunicação política e manutenção do poder que tem se mostrado notavelmente eficaz.
Entre outras coisas, eles fazem com que respostas políticas tradicionais não funcionem.
Estamos falando não apenas de uma nova forma de abordar o “fazer político”, mas de trabalhar ativamente para remodelá-lo estruturalmente.