Adiamento confirma uso de tarifas por Trump para obter concessões
Governantes do México e do Canadá ganham tempo com promessas de reforços nas fronteiras
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O primeiro dia útil de imposição das tarifas de 25% contra o México e o Canadá confirmou a intenção do presidente de Donald Trump em usá-las não como política comercial, mas como alavanca para negociar em posição de força: depois de tratativas com os presidentes dos dois países, elas foram adiadas por um mês.
As tarifas de 10% sobre os produtos chineses, previstas para entrar em vigor nessa meia-noite de segunda para terça-feira, tendem a ir na mesma direção. Trump admitiu na segunda-feira que conversaria com o presidente Xi Jinping “nas próximas 24 horas”.
Nem poderia ser diferente: a economia americana depende desses três países, que são os principais parceiros comerciais dos Estados Unidos. As exportações para o México, Canadá e China, nessa ordem, representam 40% das vendas de produtos americanos. A retaliação dos três países faria os exportadores americanos sofrerem.
Mas não são só as exportações que beneficiam uma economia, como Trump parece considerar. As exportações dos três países representam um terço do que os Estados Unidos compram de fora. Isso inclui mais da metade das verduras e frutas consumidas pelos americanos, que vêm do México, e cujo preço subiria com a elevação das tarifas por Trump, eleito precisamente por causa do descontentamento com alto custo de vida.
Na conversa com Trump, a presidente mexicana, Claudia Sheinbaum, comprometeu-se a enviar 10 mil integrantes da Guarda Nacional para a fronteira, para conter o tráfico de drogas.
Mais tarde, o primeiro-ministro canadense, Justin Trudeau, reiterou o plano de investir US$ 1,3 bilhão na fronteira, para combater o crime organizado, o contrabando de fentanil e a lavagem de dinheiro. O plano havia sido acordado em dezembro com o governo de Joe Biden, mas a aparência foi de uma conquista de Trump.
Em seu primeiro mandato, Trump declarou estado de emergência por causa da epidemia do consumo de fentanil, um opioide sintético muito potente, indicado para dores intensas, que gera dependência.
No período de 12 meses até agosto do ano passado, 90 mil americanos morreram de overdose por fentanil e outras drogas. Sua fabricação e venda pela China é uma das justificativas de Trump para as tarifas contra os produtos chineses.
Antes do adiamento das tarifas por um mês, Trudeau havia anunciado retaliar com tarifas sobre produtos americanos no valor de US$ 106 bilhões. Além disso, o governador da província canadense de Ontario, Doug Ford, disse que cancelaria contratos de US$ 100 milhões com a Starlink, empresa de conexão de internet de Elon Musk, um dos mais influentes integrantes da equipe de Trump.
Inicialmente, Trump havia dito que isentaria o petróleo e gás do México e do Canadá da sobretarifa. No sábado, no entanto, ao assinar o decreto, ele impôs tarifas de 25% sobre os combustíveis mexicanos e de 10% sobre o petróleo, gás e eletricidade do Canadá.
Com esse nível de tarifa, o petróleo mexicano só se tornaria competitivo com um desconto de US$ 18 sobre o preço do barril, expressivo o suficiente para redirecioná-lo para os mercados da Ásia e da Europa. Nesse caso, refinarias do Texas e da Louisiana teriam de buscar petróleo pesado em países como Brasil e Colômbia.