O entorno de Trump: lealdade acima de tudo
Nomeações mais importantes priorizam lealdade pessoal sobre experiência prévia em cargos públicos
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Em seus primeiros dias no cargo, algo que chama a atenção é a formação do gabinete e das equipes do segundo mandato de Donald Trump, que revela uma mudança significativa em relação à sua primeira gestão.
Se no mandato anterior, Trump tentou equilibrar diferentes correntes do Partido Republicano e até fazer algumas concessões ao establishment, agora ele prioriza um critério fundamental: lealdade absoluta e inquestionável.
Esta mudança é uma resposta direta às turbulências de sua primeira administração.
Entre 2017 e 2021, Trump enfrentou uma rotatividade sem precedentes em posições-chave, com demissões públicas e humilhantes – como a de Rex Tillerson, informado de sua demissão do cargo de Secretário de Estado via Twitter, ou John Bolton, cujo término como Conselheiro de Segurança Nacional se transformou em uma guerra conhecida de acusações.
O ponto mais dramático foi o rompimento com seu próprio vice-presidente, Mike Pence, após os eventos de 6 de janeiro de 2021, quando Pence se recusou a participar das tentativas de reverter o resultado eleitoral.
Essas experiências moldaram profundamente a abordagem de Trump para sua segunda administração.
Novo critério para segundo mandato
As nomeações mais importantes seguem um padrão claro: priorização de lealdade pessoal sobre experiência prévia em cargos públicos similares.
O novo gabinete conta com Pete Hegseth, ex-comentarista da Fox News (indicado como Secretário de Defesa), empresários que mantiveram relações próximas com Trump mesmo após sua derrota em 2020, como Howard Lutnick (apontado como Secretário de Comércio) ou Elon Musk (indicado Secretário de Eficiência Governamental).
Há também políticos que abraçaram publicamente suas posições, como RFK Jr (nomeado Secretário de Saúde) ou Marco Rubio (indicado como Secretário de Estado) – isso sem falar da escolha do próprio vice-presidente J.D. Vance, ainda no período de campanha.
Figuras como Will Scharf, seu advogado pessoal, nomeado para o cargo estratégico de secretário de equipe da Casa Branca, ou Susan Wiles, responsável pela campanha eleitoral de 2024 e agora, a primeira mulher a ser nomeada chefe de gabinete de um presidente dos Estados Unidos, também exemplificam esta nova abordagem.
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A presença de Charles Kushner, Kimberly Guilfoyle e outros familiares em posições de influência reforça a tendência de transformar a administração federal em um círculo de confiança ampliado.
O perfil dos nomeados também sugere outra tendência clara: a preferência por figuras com forte presença midiática.
Trump parece apostar que a capacidade de comunicação e o alinhamento ideológico são tão ou mais importantes que a experiência burocrática tradicional.
Em um mundo em que a política se faz cada vez mais por meio da mídia e das redes sociais, esta parece ser uma estratégia calculada.
A composição deste novo gabinete sinaliza mais que uma simples mudança administrativa – representa uma transformação no próprio conceito de governança de Trump.
Se em 2017 ele ainda parecia oscilar entre as demandas do Partido e seus próprios instintos, agora apresenta uma visão muito mais definida do que considera essencial em sua equipe.
A experiência cede espaço para uma combinação de lealdade pessoal comprovada, capacidade de comunicação com sua base e, principalmente, disposição de defender publicamente as posições do presidente mesmo em momentos de crise.
Esta mudança na lógica das nomeações sugere não apenas um Trump mais maduro politicamente, mas também mais consciente das especificidades de seu projeto de poder – um projeto que, para o bem ou para o mal, prioriza uma abordagem personalista e midiática em detrimento de convenções da política tradicional.