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    Pedro Côrtes
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    Pedro Côrtes

    Professor titular da Universidade de São Paulo (USP) e um dos mais renomados especialistas em Clima e Meio Ambiente do país.

    Queimadas no Brasil intensificam degelo na Antártica

    Em 2023, foi verificada a menor cobertura de gelo marinho na Antártica desde o início dos registros em 1979

    Estudo conduzido pelos pesquisadores Ronaldo Christofoletti e André Pardal, da Universidade Federal de São Paulo, dentro do Programa Antártico Brasileiro, mostra que o degelo na Antártica está se acentuando e as consequências não são boas para o Brasil.

    O estudo mostra que, em 2023, foi verificada a menor cobertura de gelo marinho na Antártica desde o início dos registros em 1979. Tomando como referência o período de 1981-2010, levantou-se a área mínima de gelo em cada um desses trinta anos.

    Com base nesses dados, calculou-se a média da menor quantidade de gelo marinho no continente antártico. Isso ocorre geralmente em fevereiro. O valor obtido em 2023, quando comparado a essa média, apresentou uma redução da superfície de gelo equivalente a duas vezes o território do estado da Bahia.

    Em 2024, o resultado foi igualmente alarmante, pois foi o segundo pior ano em relação à diminuição da cobertura de gelo. A retração foi equivalente ao território da Região Sudeste do Brasil.

    Inverno

    Esses valores poderiam ser menos preocupantes se durante o inverno ocorresse a formação de uma superfície de gelo que compensasse o que a Antártica perdeu no verão. Tomando como referência o mesmo período de 1981-2010, levantou-se a área máxima de gelo marinho em cada um desses trinta anos. Novamente, calculou-se a média da maior quantidade de gelo marinho no continente antártico. Isso ocorre geralmente em setembro.

    Em 2023, houve uma redução na superfície máxima de gelo em uma área que supera o Amazonas, o maior estado brasileiro. No ano passado, houve uma redução em relação à média, que é comparável ao território da Região Nordeste do Brasil.

    Resumindo

    Em 2023, a Antártica perdeu gelo marinho equivalente à área de duas Bahias e um Amazonas. Em 2024, perdeu-se uma área equivalente às regiões Nordeste e Sudeste somadas. Estamos perdendo mais gelo no verão e formando menos gelo no inverno.

    Consequências

    A redução da superfície de gelo marinho acaba por se refletir em um maior aquecimento dos oceanos e altera o fluxo de energia na atmosfera. A Antártica tem um papel muito importante no clima da América do Sul ao regular correntes oceânicas e sistemas atmosféricos que influenciam chuvas e ventos. As frentes frias que sobem pelo sul do Brasil e geram chuvas em diversos estados têm origem naquele continente. O aumento das temperaturas na Antártica vai alterar o clima no Brasil.

    As mudanças climáticas na Antártica alteram padrões meteorológicos e geram consequências que se distribuem também para outras regiões, pois a Corrente Circumpolar Antártica, que circula ao redor do continente antártico, conecta os oceanos Atlântico, Pacífico e Índico.

    Queimadas

    Em matéria publicada no site da CNN Brasil (Queimadas no Brasil agravam degelo recorde na Antártica), o pesquisador Rodrigo Goldenberg Barbosa, da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), afirma que as queimadas no bioma amazônico favorecem o degelo recorde, alimentando um ciclo vicioso no processo.

    O gelo pode refletir até 95% da luz solar, mas o material particulado (fuligem) das queimadas acaba sujando o gelo e reduz essa capacidade de refletir a luz solar. Com a fuligem, uma quantidade maior de luz é absorvida e isso aumenta a temperatura das áreas congeladas, provocando o seu derretimento.

    “O ‘carbono negro’, gerado pelos incêndios, é levado para Antártica pelos ‘rios atmosféricos’, o que diminui a capacidade de refletir o sol, absorvendo ainda mais calor, portanto facilita o degelo”, ponderou o pesquisador.

    Califórnia

    O incêndio na Califórnia está ocorrendo principalmente este ano. O levantamento efetuado considerou os meses de fevereiro (período de maior degelo) e setembro (período mais frio) para os anos de 2023 e 2024. Portanto, esses resultados ainda não refletem o que está acontecendo na Califórnia. Isso vai aparecer no levantamento de 2025.

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