Drill, baby, drill. Isso resume tudo
Na linha da política ambiental que o novo governo dos EUA pretende implementar, Trump cancelou os programas de incentivo à transição energética
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O mote “drill, baby, drill” é proferido com frequência por Donald Trump. Mais do que um incentivo ao aumento da exploração de petróleo, esse lema sintetiza toda uma visão sobre a política energética e ambiental que o novo governo dos EUA pretende implementar.
Logo após a posse, Trump cancelou os programas de incentivo à transição energética, enfrentamento das mudanças climáticas e redução das desigualdades sociais baseados no “New Green Deal”. Este foi um conjunto de propostas, apresentado como uma resolução ao Congresso americano em fevereiro de 2019, pela deputada Alexandria Ocasio-Cortez e pelo senador Ed Markey, ambos do partido Democrata.
Embora essa proposta não tenha sido aprovada, ela serviu de inspiração para diversas medidas do governo Biden, como a lei de redução da inflação que destinou recursos para combater as mudanças climáticas e diminuir as emissões. Biden também destinou fundos para investimentos em energia limpa, apresentou novas metas de redução de emissões e fez doações para fundos internacionais (como o Fundo Amazônia). Trump cancelou esses programas.
Acordo de Paris
A saída do Acordo de Paris é apenas parte de todo esse enredo. É interessante notar que, ao justificar a saída dos Estados Unidos, Trump disse que a poluição da China cruza os oceanos e chega aos Estados Unidos. Seria correto ponderar que o mesmo acontece com as emissões americanas em relação à China e a todos os outros países.
É por isso que existe a Cúpula do Clima, onde as diversos nações apresentam suas metas de redução — voluntárias, é importante frisar — de gases de efeito estufa. E Trump prosseguiu dizendo, sobre a redução de emissões, “… a menos que todos façam, não faz sentido…”. Esse é o plano para todas as nações. Ou era, para os Estados Unidos.
Defasagem tecnológica
Com a renúncia a programas de transição energética, Trump poderá levar os EUA a uma defasagem tecnológica importante. Independente das decisões americanas sobre as questões climáticas, muitos países prosseguirão no uso cada vez mais intensivo de fontes renováveis e nas metas de redução de emissões.
Isso demanda tecnologia. Como o mercado dos Estados Unidos não será mais atrativo, empresas americanas deixarão de investir no desenvolvimento de tecnologias de transição energética. Quem ganhará com isso é a China, como acontece com a produção de painéis solares ou veículos elétricos.
A produção de carros elétricos foi a estratégia adotada pela China para conquistar uma posição relevante no setor automotivo internacional. Fato é que as montadoras americanas — agora desincentivadas a produzir veículos elétricos — já estão defasadas em relação aos chineses.

Em quatro anos de mandato, haverá um gap ainda maior entre fabricantes americanos em relação aos chineses. Isso tende a ocorrer em outros setores, criando um hiato tecnológico ainda maior.
Todavia, há uma possibilidade de que isso não ocorra. A legislação californiana determina um prazo de dez anos para a proibição da venda de novos veículos movidos exclusivamente a gasolina. Serão aceitos veículos híbridos plug-in e elétricos.
Isso vai demandar desenvolvimento tecnológico, por haver outros quinze estados que optaram por adotar as determinações do California Air Resources Board (CARB), a maioria governada pelos Democratas. Isso representa cerca de um terço da população americana. Resta saber se esses estados continuarão seguindo o CARB ou serão seduzidos por um preço menor da gasolina e diesel.
Impacto para a COP30
Ao assinar a saída do Acordo de Paris, fica implícito que os EUA não participarão da COP30 em Belém. Isso fará com que o Itamaraty tenha que redobrar os esforços para trazer o maior número possível de chefes de estado para o evento.
A participação de muitos países parece garantida, pois será a primeira Conferência das Partes realizada na Amazônia, o que é muito emblemático. Entretanto, é necessário que as delegações tenham grande representatividade. Por isso, a presença de chefes de estado torna-se fundamental. Por exemplo, será que Xi Jinping virá? Seria um contraponto importante à ausência de Trump.
A escolha de André Corrêa do Lago como Presidente da COP30 reforça a perspectiva de atuação ainda mais considerável nas negociações para arregimentar mais chefes de estado para o evento. Diplomata de carreira e secretário de Clima, Energia e Meio Ambiente no Itamaraty, ele possui ampla experiência em negociações internacionais relacionadas ao clima. Portanto, cabe lembrar que, em relação à COP30, “o jogo ainda está sendo jogado”.