“Ruptura”: Elenco faria o mesmo procedimento da série? Eles respondem
Ao Na Palma da Mari, o criador Dan Erickson e os atores Adam Scott, Britt Lower e Tramell Tillman falam sobre a mensagem que a série quer passar
Você toparia passar por um procedimento cirúrgico que separa suas memórias pessoais e profissionais? É o que acontece na série “Ruptura”. Após três anos da estreia, a série volta com novos episódios semanais a partir desta quinta (16), às 23h, na Apple TV+ — antes da data oficial, que é sexta-feira (17).
Ao Na Palma da Mari, o criador Dan Erickson contou como surgiu a ideia da série:
“Eu trabalhava em uma fábrica de portas, em Los Angeles. As pessoas lá eram adoráveis, mas não era o que eu queria fazer”, disse. “Um dia, indo para o trabalho, pensei: ‘Deus, queria poder pular o tempo e de repente já ser o fim do dia’. Percebi que isso era algo perturbador de se desejar, querer viver menos horas do seu dia. Tudo meio que surgiu a partir disso.
Na trama, acompanhamos os funcionários da Lumon Industries, que passam pelo procedimento de “ruptura”. Essas pessoas tem duas personas: os “innies” — que se lembram apenas do ambiente de trabalho, sem saber quem são “lá fora” — e os “outies” — quem eles são do lado de fora do trabalho, sem saber o que acontece da empresa e o que fazem lá.
Os “innies” possuem apenas memórias relacionadas ao emprego, é como se vivessem no escritório o tempo todo. Quando deixam o local, sua próxima lembrança já é o retorno ao trabalho no dia seguinte, com roupas limpas e o corpo descansado, mas sem qualquer ideia do que aconteceu no intervalo em que estavam do lado de fora. Imagina viver apenas trabalhando 24 horas por dia? É a realidade deles.
Por isso, a 1ª temporada mostra o protagonista Mark e seus colegas tentando escapar dessa situação e enviar uma mensagem aos seus “outies”, mesmo sendo algo estritamente proibido. Já na 2ª temporada, Mark e seus amigos enfrentam as severas consequências de desafiar a barreira da separação, sendo arrastados ainda mais fundo em um cenário cheio de complicações.
Confira a entrevista completa com o elenco:
Dan, de onde veio a ideia de uma história como “Ruptura”, tão cheia de detalhes e nuances?
Dan Erickson: Bem, eu estava trabalhando em uma série de empregos de escritório quando escrevi o piloto, então muita coisa veio de observar o que via no dia a dia e colocar isso no roteiro. Mas a ideia original veio quando eu trabalhava em uma fábrica de portas, em Los Angeles. As pessoas lá eram adoráveis, mas não era o que eu queria fazer. Um dia, indo para o trabalho, pensei: “Deus, queria poder pular o tempo e de repente já ser o fim do dia”. Percebi que isso era algo perturbador de se desejar, querer viver menos horas do seu dia. Tudo meio que surgiu a partir disso.
O que vocês acharam do roteiro de “Ruptura” quando leram pela primeira vez?
Adam Scott: Achei que era o melhor piloto que já li. Era lindamente estruturado, 100% incomum e original. Também incorporava meus elementos favoritos de grandes séries ou filmes. Eu cresci assistindo “Além da Imaginação” e era um espectador voraz. Adorava como aquelas histórias lançavam você em enredos que mexiam com sua cabeça, com personagens muito bem definidos, e faziam isso em apenas meia hora. O roteiro do Dan mexeu comigo e desafiou minhas expectativas de onde a história iria. Os personagens eram tão bem definidos que ganhavam vida de imediato. Um amigo escritor me disse uma vez que você deveria ser capaz de tirar os nomes dos personagens de um roteiro e ainda saber quem está dizendo cada fala. O roteiro do Dan fazia isso perfeitamente.
Britt Lower: O roteiro do piloto é meio que uma obra de arte. É tão lindo. É tão engraçado. É tão único. Eu lembro que, quando estava lendo, me apaixonei imediatamente por todos esses personagens e esse pequeno escritório estranho que Dan Erickson sonhou. Eu amei.
Tramell Tillmanl: Eu fiquei intrigado com o mistério. Fiquei, tipo, o que está acontecendo neste escritório? Quem são essas pessoas? Mas eu realmente me apaixonei pelos relacionamentos que eles construíram. Os quatro amigos. Eu os chamo de quatro amigos. Navegando neste espaço e o quanto eles se apoiam uns nos outros e aprendem muito sobre uns aos outros.
Vamos falar sobre eles porque Helly passa por uma jornada realmente interessante na primeira temporada. Qual foi a parte mais difícil e divertida de interpretá-la?
Britt Lower: A parte mais difícil é usar meia-calça todos os dias. A melhor parte são meus colegas de trabalho.
E o Milchik? Qual foi a parte mais difícil?
Tramell Tillman: Tentar manter o trem nos trilhos. Sabe, manter os refinadores na linha era muito complicado.
Brit Lower: E eu estou tentando tirar o trem dos trilhos.
Tramell Tillman: Você pode parar com isso? Tipo, simplesmente pare. Só faça seu trabalho! [Risos]
Brit Lower: É meu jeitinho.
Podemos dizer que vocês interpretam dois papéis, o “innie” e o “outie”. Como vocês colocam as diferenças entre eles?
Adam Scott: Desde o início, era importante para o Ben [Stiller], o Dan e eu que parecesse o mesmo cara. Não queríamos algo clichê, como um que manca ou usa monóculo. Queríamos que parecesse o mesmo homem, mas como duas partes diferentes dele. Um tem mais de 40 anos de experiências de vida, traumas e amor. O outro tem apenas uns dois anos e meio de idade, essencialmente. Trabalhamos para balancear essas diferenças sutis entre os dois.
E você, Britt?
Essa é uma ótima pergunta. Tudo o que posso dizer é que elas soam diferentes na minha cabeça, quase como gêneros diferentes de música.
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O que podemos esperar da segunda temporada?
Dan Erickson: O foco principal da segunda temporada foi ampliar o escopo da série. Queríamos mostrar mais da empresa e do mundo exterior, além de explorar mais as vidas dos personagens nos dois lados da barreira de ruptura. Isso nos deu muitas oportunidades empolgantes, mas sem perder a essência estranha e única que acreditamos ser o diferencial da série.
Adam Scott: Deixamos o Mark em uma posição delicada. Uma parte dele acabou de descobrir uma grande informação, enquanto a outra nem sabe disso. A segunda temporada vai explorar essas circunstâncias.
Tramell Tillman: Bem, continuamos de onde paramos e vemos como ele avança neste novo mundo, qual é sua responsabilidade. Ele tem muito mais responsabilidades na segunda temporada, certo? Ele tem que limpar a bagunça que fez na primeira temporada.
Britt Lower: Acho que Helly continuará a fazer bagunças que Milchik tem que limpar. Quero dizer, no final da primeira temporada, todos os personagens tiveram um pequeno vislumbre de quem eles são por fora, e isso complicou seu próprio senso de identidade. Então, acho que todos eles estão mais famintos para encontrar mais significado em suas vidas, especialmente Helly, que agora percebe que sua “outie” é a filha de ouro da empresa que a aprisionou. E ela quer, ao mesmo tempo, queimar aquela empresa até o chão e salvar os trabalhadores da ruptura que ela aprendeu a amar.
Vocês fariam a experiência de “Ruptura” na vida real?
Dan Erickson: É tentador. Às vezes, me vejo em certos dias indo ao trabalho pensando: “Ok, tem muita coisa pra fazer hoje, seria legal ir direto para a cama agora”. Mas, não. Se tem uma coisa que essa série mudou na minha vida é que me fez desejar isso muito menos do que antes, porque adoro o que faço e as pessoas com quem trabalho.
Adam Scott: Eu não acho que faria. Porque se estamos dividindo nossa vida no trabalho e de casa, eu curto tanto os dois que eu me sentiria mal. Em especial a vida de casa, especialmente meus filhos, significa que a outra parte não iria ver as crianças crescendo e o quanto isso é incrível. Não quero privar nenhum lado disso. Talvez para coisas como ir ao dentista, claro. Mas para mais que isso, não.
Tramell Tillman: Pessoalmente? Não acho que seja para mim. Acho que fico um pouco nervoso em ter meu cérebro operado.
Pra vocês, qual é a mensagem principal da série? Qual é a reflexão que você espera que as pessoas façam?
Tramell Tillman: Eu acho que a série fala muito sobre identidade. A primeira fala do piloto é: “Quem é você?” E as pessoas perguntam: “Essa pessoa é má? Essa pessoa é legal? Este é o herói? Este é o vilão?”. Acho que uma grande parte disso é sobre quem somos como pessoas.
Britt Lower: Acho que a primeira temporada abalou as pessoas de maneiras diferentes porque todos nós estávamos avaliando quem somos em relação ao nosso trabalho. E acho que a segunda temporada expande essa ideia. Uma vez que você meio que se abriu, quem eu sou em relação ao meu trabalho? E meu trabalho tem significado? Então você pode começar a se perguntar, bem, quem sou eu em relação às pessoas ao meu redor? Seja minha família escolhida ou minha família de trabalho. E essas são as perguntas que eu acho que a série está explorando.
Vocês têm “innies” e “outies” no set também?
Dan Erickson: Dan praticamente não tem diferença entre o “innie” e “outie”. Eu conheço ambos muito bem, é basicamente o mesmo cara. Isso diz muito sobre a integridade de Adam Scott. Muitas pessoas são bem diferentes no trabalho e na vida pessoal, mas com Adam, a diferença não é tão grande.
Adam Scott: Não posso dizer o mesmo sobre o Dan. Cara, é louco. No trabalho não é exatamente uma democracia. É o que posso dizer. Não, ele é o mesmo cara adorável que conheci no início.