8/1: Afago de Lula agrada, mas militares pedem “virada de página”
Para integrantes das Forças Armadas, alas do governo e do PT ainda estimulam "ferida aberta" para manter polarização
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O afago do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) às Forças Armadas, logo no início de seu discurso na cerimônia que marca os dois anos dos ataques do 8 de Janeiro, foi visto com um gesto importante por militares na reconstrução da relação entre o governo e caserna, ainda cercada de melindres.
Integrantes do Exército, Marinha e Força Aérea Brasileira (FAB) afirmam que é preciso “virar a página”, mas avaliam que alas do governo e integrantes do PT não querem a cicatrização.
Sob reserva, militares dizem que manter “a ferida aberta” e, portanto, a desconfiança com as Forças, é estratégia política para manter viva a polarização no país.
Citam ainda que políticos de esquerda ignoram que a tentativa de golpe de Estado apenas não se concretizou porque não houve adesão da cúpula das Forças, como apontou relatório da Polícia Federal.
A cerimônia desta quarta-feira (8) no Palácio do Planalto contou com a presença dos comandantes do Exército, general Tomás Paiva; da Marinha, almirante Marcos Olsen; e da Força Aérea Brasileira (FAB), brigadeiro do Ar Marcelo Damasceno. Os chefes militares estavam acompanhados do ministro da Defesa, José Múcio Monteiro.
A participação no evento, porém, causou desconforto nas Forças. Militares viram no ato deste ano um perfil mais político- partidário do que a cerimônia de 2024, que ocorreu no Congresso. A solenidade desta quarta-feira não teve a adesão ampla de outros partidos.
Convocados pelo ministro da Defesa, os comandantes compareceram ao ato de forma discreta e sem declarações públicas.
Em sua fala, Lula citou a presença dos chefes militares e falou que é possível construir as Forças Armadas para defender a soberania nacional.
“Senhores comandantes, eu quero aqui agradecer José Múcio, que trouxe os três comandantes das Forças Armadas para mostrar a esse país que é possível a gente construir as Forças Armadas com o propósito de defender a soberania nacional, os nossos 16 mil km de fronteira seca, os nossos quase 5,5 milhões de mar sob a responsabilidade do Brasil, a nossa maior floresta de reserva do mundo, 12% da água doce, a nossa riqueza no subsolo, a nossa riqueza no solo, a nossa riqueza no fundo do mar e, sobretudo, a soberania do povo brasileiro.”
O presidente Lula deseja que o 8 de Janeiro vire uma data fixa no calendário em defesa da democracia. Nas Forças, porém, já há um temor do evento em 2026 em pleno ano eleitoral.