Lula recua e se compromete com autonomia do BC
Vídeo do presidente com Galípolo acalma mercado e deve segurar críticas do PT
A divulgação do vídeo do presidente Lula ao lado de Gabriel Galípolo foi um copo de água com açúcar para o mercado financeiro nesta sexta-feira (20).
Lula defendeu a independência e autonomia do Banco Central e pincelou apoio ao arcabouço fiscal, sinalizando que novas medidas podem vir por aí.
O petista fez, ao mesmo tempo, um gesto na direção do mercado e uma blindagem contra seu próprio partido, que não desiste de atacar o corte de gastos, o Copom e a Faria Lima.
O presidente recuou da beligerância adotada há semanas contra o diagnóstico consensual sobre o desequilíbrio fiscal do país.
Se a vida é feita de gestos, a gravação foi bem recebida depois da semana mais turbulenta do ano, quando o dólar bateu R$ 6,30, maior valor nominal da história. Mas o alívio da sexta-feira também teve outros gatilhos.
Talvez o mais forte deles tenha sido o caminho de dólares despejado pelo BC no mercado de câmbio. Nos últimos dois dias foram US$ 15 bilhões, na maior venda diária à vista da história na quinta-feira (19).
Nesta sexta-feira (20), foram mais US$ 7 bilhões.
Ao todo, em dezembro, as operações do BC somam US$ 27,7 bi, ultrapassando o recorde mensal anterior de março de 2020, em pleno estouro da pandemia.
Depois do despejo bilionário do BC, o mercado também se ajeitou melhor com leilões de recompras de títulos feito pelo Tesouro Nacional, provendo liquidez e saída para investidores que não queriam mais carregar papéis públicos.
E, claro, a aprovação total do pacote de gastos no Congresso completa a lista do cardápio de fatores que contribuíram para desfazer parte do estrago nos ativos financeiros.
O recuo de Lula não é inédito e, por isso, está longe de ser um divisor de águas na percepção sobre o compromisso de seu governo com o ajuste fiscal.
Nesses dois primeiros anos de mandato, Lula já foi e voltou – a volta sempre mais contundente – nas suas posições sobre controle de gastos e independência do BC.
No melhor estilo devoto de São Tomé, o mercado aproveitou o gesto do presidente petista para desafogar o aperto da semana. Mas acreditar mesmo, só vendo a mudança acontecer.
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