Análise: Haddad busca agradar a agentes econômicos e militância do PT em anúncio sobre cortes de gastos
A perspectiva, porém, é de que o valor projetado de revisões de R$ 70 bilhões seja mantido para 2025 e 2026
O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, encontrou um jeito de demover a resistência interna e da militância do PT a seu ensejado pacote de cortes de gastos.
Em pronunciamento marcado para as 20h30 desta quarta-feira (27), o ministro deve detalhar o plano de contenção de gastos e, de quebra, anunciar um projeto para isentar aqueles que ganham até R$ 5 mil do Imposto de Renda.
Ainda há, também, certa incerteza sobre a presença de garantias que limitem o crescimento real do salário mínimo às regras do novo arcabouço fiscal — de aumento de 2,5% acima da inflação ao ano, cujo impacto é mensurado em uma economia de R$ 11 bilhões ao ano para a União.
Por esses dois motivos, o mercado reage mal nesta quarta-feira — e o dólar chegou a atingir R$ 5,90 no pregão.
Entre as revisões na mira estão a idade mínima de 50 para 55 anos para que militares passem para reserva e também o fim do pagamento de pensões para familiares de membros das Forças Armadas, depois de árdua negociação do ministro junto a José Múcio Monteiro, ministro da Defesa.
A perspectiva, porém, é de que o valor projetado de revisões de R$ 70 bilhões seja mantido para 2025 e 2026.
Com o anúncio envolvendo as revisões do IR, Haddad busca agradar a militância do PT e aplainar as críticas da presidente do partido, Gleisi Hoffmann. Nos bastidores, a estratégia é vista como uma tentativa de criar duas narrativas: uma para os agentes econômicos; outra para os eleitores.
Com perspectiva de anúncio há mais de três semanas, a apresentação do pacote foi protelada por diversas ocasiões — e alvo de críticas do próprio PT e de ministros do governo de Luiz Inácio Lula da Silva.
O pacote deve ser apresentado por meio de uma Proposta de Emenda Constitucional. Haddad já tem a sinalização dos presidentes da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), e do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), de que o projeto será apoiado pelas duas casas.
Como antecipou a CNN, o anúncio dos cortes estava previsto para a última terça-feira (26).