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    O papel de Mujica nas eleições do Uruguai: “Precisamos sair deste poço”

    Ex-presideente tem participado de atos políticos do Frente Ampla, pedindo votos ao candidato da centro-esquerda

    Dario Kleinda CNN

    Em plena recuperação de um tratamento de radioterapia contra um câncer de esôfago, o ex-presidente do Uruguai, José “Pepe” Mujica, privilegiou a campanha pré-eleitoral, deu entrevistas e participou de vários atos pedindo votos para seu “filho político”, o candidato de centro-esquerda, Yamandú Orsi. Como tem dito em diversas entrevistas, para ele, “a política é uma paixão”.

    “A política é uma paixão. Ou se tem, ou não se tem”, afirmou em uma das muitas entrevistas que deu durante as últimas semanas da campanha eleitoral, no programa “Nada que perder”, da rádio M24. Por isso, durante as últimas semanas da disputa, o ex-mandatário participou de rodas de mate, conversas e atos políticos do Frente Ampla, pedindo votos para Yamandú Orsi, um ex-professor de História e ex-administrador do Departamento de Canelones, que atua no mesmo setor político de Mujica.

    Antes do primeiro turno eleitoral, no ato de encerramento de seu setor, o Movimento de Participação Popular (MPP), Mujica esteve presente, caminhando com dificuldade, para dar sua mensagem: “Sou um ancião que está muito perto de partir para um lugar de onde não se volta, mas sou feliz porque estão vocês, porque quando meus braços se forem, haverá milhares de braços substituindo a luta, e toda a minha vida eu disse que os melhores líderes são aqueles que deixam um legado que é superado com vantagem por aqueles que vêm depois.”

    E essa tem sido uma mensagem recorrente do ex-presidente, qualificado por muitos durante seu mandato como “o presidente mais pobre do mundo” por sua vida austera em uma fazenda nos arredores de Montevidéu: deixar um legado político. “Vou morrer feliz, não por morrer, mas por deixar uma barra (grupo) que me supere com vantagem”, disse em entrevista ao jornal El País de Madrid.

    Nesse sentido, um de seus maiores orgulhos políticos é precisamente o candidato de seu partido, Yamandú Orsi, que enfrenta o aspirante do governo, da centro-direita, Álvaro Delgado. Em um dos atos políticos em que participou, na semana anterior ao segundo turno, Mujica qualificou Orsi como “um mago” e um grande “negociador”. Uma virtude muito destacada por seus aliados, em um contexto de um parlamento dividido, no qual o Frente Ampla conseguiu, em outubro, a maioria no Senado, mas não na Câmara dos Deputados.

    Polêmicas

    No entanto, as participações e declarações de Mujica não estiveram isentas de controvérsias. Em uma entrevista, ele qualificou a senadora eleita Blanca Rodríguez como seu plano de “substituição” caso a candidata à vice-presidência, Carolina Cosse, não aceitasse a nomeação. Isso gerou críticas da oposição e do próprio Yamandú Orsi. “Não compartilho disso, como tantas outras coisas que não compartilhei do velho”, disse o candidato à presidência.

    Pouco depois, Mujica chamou de “miseráveis” os políticos que “gostam muito de dinheiro”. Ele afirmou que “política e fazer dinheiro devem ser separados” e criticou o presidente Luis Lacalle Pou por ter comprado “uma moto de 50 mil dólares”. Isso levou Orsi a se distanciar novamente de seu mentor político e declarar que “cada um gasta o dinheiro como quer”. “Tem gente que gasta em outra coisa, resolve de outra forma. O presidente alguma vez disse que tinha um nível de vida para manter, e eu respeito isso”, disse, ao ser questionado por jornalistas.

    Lacalle Pou se referiu às críticas de Mujica dizendo que “aumentar o volume” das declarações não ajuda e apontou que era necessário “administrar as emoções” perto do segundo turno.

    Dias depois, na quarta-feira (20), Mujica pediu desculpas por essa mensagem. “Eu falei demais, por impulso. E peço desculpas ao povo uruguaio, não pelo conteúdo, que assino embaixo, mas pela forma”, disse em entrevista à rádio Sarandí.

    Isso não impediu que ele continuasse fazendo campanha até o momento da proibição: “você pode influenciar com seu voto, não pode ser neutro (…) É um problema de percebermos que precisamos sair deste poço no qual nos metemos”, disse ao jornal El Observador.

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