OPINIÃO
PUC e USP, filhas da mesma maldade
Desde que eu estudo questões raciais no Brasil, a pergunta que sempre vem à tona é: “O racismo em nosso país tem a ver mais com a questão econômica e não racial?”. Esquecem-se as pessoas que tem essa dúvida que as duas coisas estão relacionadas em um país que, por que as bases econômicas foram criadas sobe as estruturas escravocrata, onde o escravizado era preto.
O caso dos insultos racistas envolvendo alunos de Direito da PUC São Paulo e da USP expôs a face sombria do preconceito e da discriminação em instituições de ensino superior, onde jovens, brancos, bem nutridos, da classe média privilegiada da PUC São Paulo, proferiram insultos contra alunos da USP, chamando-os de “pobres” e “cotistas”, mesmo sendo a maioria ainda dos alunos de Direito da USP primos-irmãos da mesma classe abastada de seus amigos da PUC. Em resumo, uma briga de família onde sobrou para o lado mais fraco, o dos pretos e pobres, ainda minoria nesse espaço elitista das duas melhores escola de Direito do país.
As palavras revelam um profundo desprezo pela diversidade social e econômica, além de um racismo praticado pelos filhos de uma classe média abastada que se acostumou por séculos a ver os negros em nosso país se colocarem “no seu lugar”, e de repente vem a filha da empregada ou do segurança, geralmente um preto, dividindo o espaço da cadeira universitária em pé de igualdade.
O uso do termo “cotista” como insulto é particularmente preocupante, pois visa deslegitimar o sistema de cotas raciais e sociais que promove a inclusão e igualdade de oportunidades. Isso demonstra ignorância, preconceito, intolerância e racismo. Ao associarem pobreza e raça a inferioridade, expõem a face mais nefasta do preconceito, em que se estruturam os estereótipos, refletindo um elitismo arraigado em algumas instituições de ensino superior, onde a origem social e econômica é usada para julgar o valor pessoal dos indivíduos.
Cabe às duas universidades medidas disciplinares de impacto e educação que talvez tenha faltado dar aos alunos da PUC. Por exemplo, de que se hoje a instituição existe e se é de excelência podem acreditar que tem o sangue negro na construção desse legado, pois, para quem não sabe, 5% de todos os escravizados que entraram nesse país se direcionavam à Santa Sé, mostrando, nos dias de hoje, que a Igreja Católica, instituição essa que também se beneficiou com o tráfico negreiro, hoje vê seus alunos esbanjando preconceitos.
A USP – Universidade de São Paulo também não é mocinha nessa história, resta lembrar que foi uma das últimas universidades públicas a adotar algum tipo de ação afirmativa para alunos negros e carentes, ainda assim depois de muita pressão. E só Deus e os alunos negros sabem o que eles passam nesses dois redutos da mais alta classe excludente desse país.
O que se espera da PUC, que tem uma dívida histórica com a população negra desse país, que resistiu o quanto pôde para a não entrada de pessoas pretas e pobres em seus bancos universitários, é a mesma medida que os escritórios onde eles estagiavam , uma punição severa tirando os jovens do seu quadro de trabalho, uma vez que a atitude mostrou que o talento deles pode ser para qualquer outra coisa menos o oficio do direito. É o mínimo que se pode esperar da PUC nesta semana da Consciência Negra de 2024 do século 21.