Veja oito conclusões sobre a vitória de Trump sobre Kamala Harris
Republicano obteve ganhos com quase todos os grupos demográficos em comparação com sua derrota em 2020, segundo pesquisas de boca de urna
Donald Trump completou um retorno político que quebrou paradigmas, conquistando a Casa Branca em uma eleição moldada mais pela insatisfação dos americanos com a direção do país do que pelos alertas dos democratas sobre o que chamaram de ameaça relacionada ao candidato republicano.
Em uma repetição de sua vitória de 2016, Trump mais uma vez rompeu o chamado “muro azul”. Ele derrotou a vice-presidente Kamala Harris na Pensilvânia e estava liderando em mais dois estados indecisos dos Grandes Lagos: Michigan e Wisconsin. Ele também obteve bom desempenho na Geórgia, Carolina do Norte, Arizona e Nevada.
Trump obteve ganhos com quase todos os grupos demográficos em comparação com sua derrota em 2020, mostraram as pesquisas de boca de urna da CNN.
Ele agora está pronto para retornar ao cargo com uma maioria republicana no Senado, facilitando seu caminho para confirmar suas escolhas para cargos-chave no governo. Ainda não está claro qual partido controlará a Câmara.
Enquanto isso, os democratas serão forçados a enfrentar questões difíceis sobre a direção do partido e sobre seu apelo a segmentos críticos do eleitorado, particularmente os latinos, cujo realinhamento poderia remodelar a política americana.
Veja oito conclusões da eleição de 2024
1) Trump desfaz o mapa de Biden
Embora vários estados ainda estejam contabilizando seus resultados, o caminho de Trump para a vitória em 2024 parece ter sido quase idêntico à sua vitória de 2016.
Ambas as campanhas estavam focadas há muito tempo em sete estados indecisos: o “muro azul” de Michigan, Pensilvânia e Wisconsin, e os campos de batalha do chamado Cinturão do Sol: Arizona, Geórgia, Carolina do Norte e Nevada.
Não houve surpresas: nenhum estado que inesperadamente caiu na coluna de Trump, apesar de suas reflexões sobre vencer em estados como Novo México e Virgínia.
No entanto, Trump já conquistou Geórgia, Carolina do Norte e Pensilvânia, e lidera em todos os sete campos de batalha. Em 2020, Joe Biden venceu seis desses sete — perdendo apenas a Carolina do Norte para Trump.
A contagem final pode levar semanas, mas Trump também detém a liderança do voto popular. Se essa vantagem se mantiver, ele seria o primeiro republicano desde George W. Bush em 2004 a vencer o voto popular.
2) O “teto de vidro” permanece intacto
A derrota de Kamala Harris mais uma vez deixará decepcionadas milhões de mulheres que esperavam ver o momento histórico no qual Hillary Clinton afirmou que o “teto de vidro” seria quebrado.
Houve uma divisão significativa de gênero, com a maioria das mulheres apoiando Kamala, mas os homens apoiando Trump, mostraram as pesquisas de boca de urna da CNN.
O único segmento do eleitorado em que a democrata obteve ganhos notáveis em relação ao desempenho de Biden em 2020 foi entre as mulheres com ensino superior: as eleitoras que impulsionaram o forte desempenho suburbano do partido nas eleições de meio de mandato de 2022.
O direito ao aborto –questão que impulsionou as vitórias democratas em 2022– mostrou-se menos potentes neste ano.
Harris teve um desempenho muito pior do que Biden entre os eleitores que disseram acreditar que o aborto deveria ser legal na maioria dos casos, embora a Suprema Corte tenha revogado o caso Roe v. Wade entre as duas eleições.
Quatro anos atrás, 26% do eleitorado tinha essa opinião, e Biden os venceu por 38 pontos. Neste ano, o percentual subiu para 33%, e Harris os venceu por apenas 3 pontos.
É um resultado que sugere que a questão não foi o fator decisivo para muitos desses eleitores –embora os democratas tenham tido sucesso nas eleições de meio de mandato de 2022.
3) Republicanos vencem no Senado
Os republicanos reconquistaram a maioria no Senado que tinham durante o primeiro mandato de Trump, mas perderam quando ele foi derrotado em 2020.
A vitória do Partido Republicano teria ramificações significativas para um novo presidente, facilitando o caminho de Trump para ter indicados para o gabinete e outros cargos importantes confirmados.
Os democratas entraram no ciclo eleitoral de 2024 com apenas uma ou duas cadeiras sobrando (dependendo de qual partido estava na Casa Branca e, portanto, detinha o voto de desempate do vice-presidente).
Os republicanos venceram todas as três corridas. A aposentadoria do senador da Virgínia Ocidental Joe Manchin garantiu a vitória do republicano Jim Justice. O senador de Montana Jon Tester perdeu Tim Sheehy, de 38 anos. O senador de Ohio Sherrod Brown perdeu para o empresário Bernie Moreno.
Os democratas esperavam que um tiro no escuro se materializasse, cruzando os dedos para que o deputado Colin Allred pudesse destituir o senador do Texas Ted Cruz, ou que a ex-deputada Debbie Mucarsel-Powell pudesse contrariar a tendência à direita da Flórida e derrotar o senador Rick Scott. Nenhum dos dois chegou perto.
Três disputas pelo Senado em Michigan, Pensilvânia e Wisconsin também foram acirradas. O resultado delas determinará o tamanho da maioria do Partido Republicano.
Os republicanos agora enfrentam uma batalha para substituir Mitch McConnell como líder do partido na Câmara, depois que o senador do Kentucky disse em fevereiro que deixaria seu posto de liderança. O senador do Texas John Cornyn e o senador da Dakota do Sul John Thune são os dois principais candidatos.
4) Democratas poderiam encontrar algum abrigo na Câmara
Os democratas não queriam discutir isso antes da eleição, mas estão falando sobre isso agora. Com a derrota de Kamala e o Senado ficando sob controle do Partido Republicano, a Câmara pode se tornar a última linha de defesa do partido em Washington.
Com tantos votos ainda a serem contados, é difícil dizer se os democratas da Câmara estão a caminho da vitória ou de outra derrota acirrada. Os membros do partido receberam boas notícias de Nova York e Califórnia, que poderiam, por si só, expulsar titulares republicanos suficientes para fazer de Hakeem Jeffries o próximo presidente da Câmara.
O que isso significaria é, simplesmente, que Trump não seria capaz de aprovar muita legislação, se é que conseguiria, e, talvez mais importante, se veria paralisado enquanto tenta reverter as políticas de Biden.
O Obamacare também estaria quase certamente livre. Os republicanos não conseguiram revogá-lo em 2017. Sendo assim, a conversa sobre revogação pode ter acabado de qualquer maneira.
Embora todas essas leis –as conquistas marcantes das duas últimas administrações democratas– pareçam seguras se os democratas obtiverem a maioria, ainda haverá lutas duras nos níveis de administração e agência sobre como elas serão administradas.
Mas em uma noite sombria para os democratas, uma chance de lutar é o melhor que o partido pode pedir.
5) Força dos eleitores rurais
Se Trump retornar à Casa Branca, ele terá que agradecer aos eleitores das zonas rurais do país.
Haverá muita discussão sobre o motivo pelo qual Kamala teve um desempenho inferior ao de Biden nas grandes cidades e seus subúrbios, mas o fato é que ela venceu nesses lugares por margens significativas.
Ainda assim, as margens de Trump nas áreas rurais parecem ter sido grandes demais para serem ultrapassadas. nO desempenho de Harris em redutos correspondentes foi praticamente o inverso.
No Condado de Montgomery, lar de uma grande parte dos subúrbios da Filadélfia, Kamala está a caminho de ganhar cerca de 60% dos votos. O problema para a vice-presidente –e será algo que os democratas passarão muito tempo mastigando– é que Biden se saiu cerca de 2,5 pontos melhor do que isso.
Uma dinâmica semelhante também foi observada no Condado de Oakland, em Michigan, onde Trump novamente atraiu sua base e, em alguns lugares, aumentou seu apoio, enquanto Harris dificilmente igualará a vantagem de 14 pontos de Biden.
6) Autoanálise democrata
Bem antes do resultado da eleição presidencial aparecer, uma coisa estava cristalina para os democratas enquanto a noite de terça-feira avançava: haveria muita troca de acusações em torno do partido. Os resultados não foram apenas uma decepção no nível presidencial. Em partes do país onde os democratas venceram e esperavam vencer, a margem estava longe de ser confortável.
Mesmo em um cenário em que Trump conseguisse mobilizar sua base, os democratas achavam que uma onda de apoio entre as eleitoras, graças à ênfase nos direitos ao aborto em disputas eleitorais por todo o país, manteria a disputa presidencial acirrada.
“Como sabemos o tempo todo, esta é uma disputa muito acirrada”, escreveu a presidente da campanha de Harris, Jen O’Malley Dillon, em um e-mail em determinado momento da noite.
Mas, conforme a noite se arrastava, não foi nem de longe tão estreito quanto as pesquisas democratas e as pesquisas públicas haviam projetado. Ficou claro para os democratas que eles não eram mais o partido com uma vantagem contínua entre os eleitores minoritários e os sindicatos. E eles terão que pensar em como conquistar esses eleitores e onde erraram nas mensagens e no jogo de campo.
“Haverá muitas críticas e assim por diante”, disse o estrategista democrata David Axelrod à CNN –antes de elogiar Harris como candidata, apesar dos resultados.
7) Trump obtém grandes ganhos com homens latinos
A campanha de Trump pressionou muito para cortejar homens, e particularmente homens negros. As pesquisas de boca de urna da CNN mostraram que valeu a pena.
O principal entre os ganhos de Trump em comparação com seu desempenho contra Biden em 2020: homens latinos. Trump venceu esse grupo por 8 pontos, quatro anos depois de perdê-los por 23 pontos.
É um resultado que mostrou que os esforços de sua campanha para cortejar esses eleitores valeram a pena. E que o foco tardio em um comediante zombando de Porto Rico no comício de Trump no Madison Square Garden não causou os danos que a campanha de Kamala esperava. Os ganhos se concentraram mais fortemente entre os latinos com menos de 65 anos.
Trump também obteve ganhos em posições-chave entre os homens negros, mais que dobrando seu desempenho em 2020 na Carolina do Norte.
No geral, as pesquisas de boca de urna pintaram um quadro de um eleitorado insatisfeito com o estado da nação e sua liderança.
Quase três quartos dos eleitores disseram que estavam insatisfeitos ou irritados com a maneira como as coisas estão indo nos Estados Unidos, segundo as pesquisas de boca de urna da CNN. Trump conquistou cerca de três quintos desses eleitores.
Biden estava profundamente submerso, com 58% dos eleitores dizendo que desaprovam seu desempenho como presidente. Quatro em cada cinco desses eleitores apoiaram Trump.
Kamala caiu em comparação ao desempenho de Biden há quatro anos entre eleitores jovens, independentes, moderados e famílias sindicalizadas.
Os eleitores que disseram que a democracia era a questão mais importante apoiaram Kamala de forma esmagadora, mas Trump conquistou aqueles que identificaram a economia como a mais importante por quase a mesma margem.
8) A importância da Flórida e de Ohio
O status de décadas da Flórida como um estado indeciso para a Presidência chegou ao fim.
Dois anos depois que o governador republicano Ron DeSantis obteve uma vitória de 19 pontos percentuais na reeleição, Trump confirmou isso com outra vitória republicana de dois dígitos.
No Condado de Miami-Dade, fortemente hispânico –tradicionalmente uma grande fonte de votos democratas– a grande oscilação foi totalmente exibida. O que havia sido uma vitória de 29 pontos para Hillary Clinton em 2016 foi uma vitória de 11 pontos para Trump este ano.
A Flórida até mesmo contrariou a tendência nacional de estados de todas as tendências políticas que apoiaram medidas eleitorais de direitos ao aborto nos dois anos e meio desde a reversão do caso Roe v. Wade.
A maioria dos eleitores da Flórida apoiou uma medida eleitoral para legalizar o aborto, mas ela não atingiu o limite estadual de 60% para ser aprovada –o que significa que a proibição no estado continua em vigor.
Há razões mais profundas para os democratas se desesperarem. A vantagem histórica do partido no registro de eleitores praticamente evaporou em 2020, e agora os republicanos –alimentados pela migração para o estado desde a pandemia do coronavírus– têm a liderança.
À medida que se livra de seu status de estado indeciso, a Flórida pode estar a caminho de se tornar o próximo Texas –preparada para uma geração de domínio republicano construída em uma coalizão de eleitores mais velhos e sem educação universitária, eleitores hispânicos mais jovens, conservadores migrando de outros estados e muito mais.
Ohio, outro campo de batalha presidencial tradicional, também está agora solidamente na coluna vermelha. Trump estava navegando para uma vitória de dois dígitos lá.
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