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    Victor Irajá
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    Victor Irajá

    Com passagens por Estadão e rádio CBN, foi editor do Radar Econômico, da revista Veja. É especializado em Economia pela FGV e pelo Insper

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    Vitória de Trump pressiona Haddad a enfrentar PT e cortar gastos na carne

    Em ambas as pontas - doméstica e exterior -, pressões à inflação do país persistem

    Em um contexto de déficit fiscal e dívidas crescentes, o país possui pouco espaço para políticas expansionistas — tão caras ao governo Lula.

    Acima das discussões morais, sobre imigração e de costumes, a eleição de Donald Trump para a presidência dos Estados Unidos exige um pensamento e uma postura pragmáticos acerca das contas púbicas do Brasil.

    A elevação do magnata a um segundo mandato trouxe um novo cenário de incertezas ao mercado financeiro global, impactando especialmente países emergentes como o Brasil.

    O dólar movimenta-se, ultrapassando níveis preocupantes em relação ao real — em linha com as promessas protecionistas do republicano em relação à taxação de importações e a possibilidade de Trump engendrar uma nova dinâmica em relação às alianças — e disputas comerciais — em um cenário global já conturbado.

    A inflação virou papo de bar e nas filas de mercado nos Estados Unidos — está caro viver e a manutenção de preços elevados desde a pandemia ajuda a explicar a derrocada dos democratas Joe Biden e Kamala Harris em sua empreitada rumo à Casa Branca.

    As políticas já manifestadas em torno do desejo de taxar importações da China em cerca de 60% e as demais em um patamar entre 10% e 20% impactam a cotação das commodities nesta quarta-feira (6).

    O preço do petróleo cai mais de 1% em meio ao temor de que Donald Trump seja mais firme em relação às sanções envolvendo o Irã, importante produtor da Organização de Países Exportadores de Petróleo (OPEP).

    Em meio à ressaca causada pela eleição de Trump nos mercados mundiais, o cenário fiscal doméstico é trazido às discussões pelas perspectivas em torno de sua agenda econômica.

    Além dos temores acerca da alienação de arrecadação por causa das taxações de produtos importados, as deduções para empresas propostas pelo presidente eleito reacendem o temor envolvendo o cenário fiscal no Brasil — isso porque as novas taxas e a possível diminuição do comércio de produtos importados não seriam suficientes para aplainar as alienações de receita oriundos das isenções.

    As perspectivas jogam luz às expectativas sobre o que fará o Federal Reserve (Fed) para atrair capital aos Estados Unidos; e, aqui no Brasil, a capacidade insuficiente do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC) de conter o câmbio e a decorrente pressão inflacionária no país.

    Nesta quarta-feira, o BC decide o reajuste dos juros; enquanto o banco central norte-americano o fará amanhã. De um lado, o Fed, ao sinalizar possíveis aumentos de juros, gera uma pressão global de fuga de capitais para os Estados Unidos, que passa a oferecer rendimentos mais atrativos e os mais seguros do mundo.

    As ferramentas do Copom, porém, são limitadas se o governo não se comprometer com medidas fiscais mais restritivas. Trata-se de uma responsabilidade compartilhada: a política monetária isolada e a possível alta de 0,5 ponto percentual para conter a atividade não serão suficientes para conter a volatilidade do câmbio se a política fiscal não caminhar na mesma direção.

    O movimento amplia a valorização do dólar frente ao real. Do lado brasileiro, o Copom enfrenta um dilema ao decidir sobre a taxa de juros em um cenário de inflação resiliente e contas públicas pressionadas.

    Para além das responsabilidades da dupla Roberto Campos Neto, presidente da autarquia, e Gabriel Galipolo, seu sucessor e atual diretor de Política Monetária; aí é que entra o papel do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, como possível fiador de uma pressão inflacionária menos significativa em meio a um cenário global turbo para o país.

    A alta do dólar contribui para uma inflação de custos ao encarecer os produtos importados, como combustíveis, alimentos e insumos industriais.

    Com a economia já fragilizada e as contas públicas sob escrutínio e enfrentando uma crise de desconfiança em relação à premência da política econômica, essa pressão inflacionária gera um risco de persistência de preços elevados, afetando o consumo e a manutenção de crescimento robusto do país.

    Afora o cenário externo, o desemprego em baixa gera uma capacidade voluptuosa por parte da população em manter seu poder de compra — em linha com o câmbio elevado, que chegou a atingir mais de R$ 5,80 desde a manhã desta quarta, pressionando ainda mais a inflação a longo prazo.

    Segundo o Boletim Focus do Banco Central, de antes mesmo de Trump ser reeleito, o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) para 2024 ultrapassou o teto da meta de 4,5% determinado pelo Conselho Monetário Nacional (CMN) — e segue em viés de alta.

    O desemprego no Brasil, por sua vez, caiu para 6,4% no trimestre de julho a setembro deste ano, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) — segundo índice mais baixo registrado em 12 anos, pior apenas do que taxa de 6,3% observada no último trimestre de 2013.

    A situação fiscal do Brasil adiciona um elemento crítico a essa equação. Em um contexto de déficit fiscal e dívidas crescentes, o país possui pouco espaço para políticas expansionistas — tão caras ao governo de Luiz Inácio Lula da Silva —, sem agravar sua credibilidade perante os investidores internacionais, que migram para o dólar.

    A combinação entre a deterioração fiscal e a crise de credibilidade em torno do controle efetivo dos gastos públicos cria um ambiente propício para que o câmbio reaja mais negativamente ainda — e a inflação torne-se insustentável para a manutenção de certa estabilidade econômica por parte do governo Lula.

    O país cresce e, com a atividade aquecida, a inflação responde. Em 2023 o crescimento do PIB brasileiro foi de 2,9%.

    A expectativa está posta: em meio às discussões sobre o pacote de Haddad de uma política de cortes robusta animou o mercado na segunda-feira (4), quando a cotação do dólar teve um alívio significativo em meio às perspectivas de avanço da agenda — um recuo de 1,48% em relação ao pregão anterior.

    A necessidade de um corte de gastos robusto e responsável se torna imperativa para estabilizar o câmbio — e manter a confiança dos investidores no país.

    Em meio às discussões da magnitude das reavaliações — que chegariam a R$ 60 bilhões —, é necessário que Haddad apresente um pacote estrutural para a contenção fiscal poder reduzir a pressão sobre o dólar ao sinalizar para o mercado que o Brasil está comprometido com a sustentabilidade de suas contas públicas.

    O desafio, porém, está em casa.

    Membros do PT e do próprio governo Lula estão reticentes acerca da natureza das revisões de gastos públicos.

    Enquanto Gleisi Hoffmann, presidente do PT, joga para a torcida a ausência de uma política ineficiente em torno de um possível leilão de dólares pelo Banco Central, o ministro do Trabalho, Luiz Marinho, prega que não quer ser impactado pelas necessárias revisões.

    Ao propor uma estratégia de corte de gastos, Haddad teria a oportunidade de reverter parcialmente a atual trajetória do câmbio — pressionado pelas políticas de Trump —, promovendo um equilíbrio mais saudável e sustentável para as contas públicas.

    Se Haddad falhar, a falta de uma resposta firme pode agravar o ciclo de alta do dólar, elevando ainda mais os custos para consumidores e empresas, impactando diretamente a inflação e o crescimento econômico sustentável.

    Somente uma postura decidida e coordenada entre políticas monetárias e fiscais poderá estabilizar a economia e oferecer um horizonte de recuperação real ao Brasil.

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