Waack: Com qualquer resultado, eleição cimenta divisão nos EUA

Tem eleições que são mesmo um ponto de inflexão.

Ponto de inflexão é quando a vida muda de rumo. E vai para um outro lado, não importa qual.

As coisas mudam de um jeito que parece ser irreversível.

Era uma coisa antes, e nunca voltará a ser depois do ponto de inflexão.

É assim que os dois lados enxergam a decisão eleitoral cujos votos começaram a ser contados agora.

Democratas e republicanos enxergam o resultado dessa eleição como um ponto sem volta, especialmente se o adversário for o vencedor.

Na verdade, essas eleições e o espírito demonstrado nessa brutal luta política sugerem que o ponto sem volta aconteceu um bocado lá atrás.

E não foi a vitória de Obama em 2008, nem a vitória de Trump, nem a derrota dele para Biden – embora cada um desses eventos tivesse seu papel específico na trajetória política dos Estados Unidos.

Os sociólogos dizem que a sociedade americana foi se descosturando à medida em que desigualdades de renda e de educação se transformaram em fatores de enorme magnitude.

Acompanhados de grandes mudanças culturais, quer dizer, os valores de um grupo já não são vistos como tais pelo outro.

E o bem comum, o famoso espírito americano de comunidade, foi ficando para trás.

Não importa quem sai vencedor das urnas, há pouca esperança de que as profundas divisões sejam de alguma forma mitigadas.

Claro que haverá diferenças em economia, política ambiental, política externa – e por aí vai – se estamos falando de Trump ou de Kamala Harris.

Mas se o ponto de inflexão começou lá atrás – o da descostura da sociedade americana – estas eleições não sugerem um desvio dessa rota.