BC vai precisar de pacote fiscal robusto para conter expectativas negativas para inflação
O ministro Fernando Haddad participou de reunião com presidente Lula na manhã desta segunda-feira (04) depois de ter cancelado viagem que faria à Europa
O mercado ajustou para cima as previsões para o IPCA de 2024 a 2026, 4,59%, 4,03% e 3,61%, respectivamente. Nos três anos a expectativa está distante da meta de 3% a ser cumprida pelo Banco Central. Há um processo inflacionário em curso fruto da atividade econômica acima da sua capacidade, mercado de trabalho aquecido e a valorização do dólar contra o real, que acumula quase 20% este ano.
Este não é um quadro fácil de se contornar, segundo economistas ouvidos pelo blog. A principal razão para um período tão longo de estimativas desfavoráveis para inflação não está sob controle do Comitê de Política Monetária. É a política fiscal do governo Lula que vem promovendo uma trajetória de descolamento da confiança dos agentes econômicos na capacidade do BC em controlar a alta dos preços.
O ministro Fernando Haddad participou de reunião com presidente Lula na manhã desta segunda-feira (04) depois de ter cancelado viagem que faria à Europa. O mercado gostou e reagiu, com dólar caindo mais de 1% desde abertura dos negócios, cotado abaixo dos R$ 5,80. Ao final ele afirmou que as medidas estão avançadas tecnicamente e que podem ser anunciadas nesta semana.
Ainda assim, para que a descompressão no câmbio aconteça de forma consistente, Haddad terá que apresentar seu pacote fiscal com soluções que sejam críveis, factíveis no menor tempo possível e com apoio explícito do Planalto. Além de terem efeito sobre a dinâmica da dívida pública.
O trabalho do BC em conter o processo inflacionário depende disso para evitar um custo alto para cumprimento da meta de inflação. A menos de dois meses de deixar a presidência, Roberto Campos Neto subiu o tom dos recados ao pedir um “choque fiscal” para conter a desancoragem das expectativas. Ele foi seguido pelos diretores do Copom, inclusive aqueles indicados por Lula.
O Comitê se reúne nesta semana e deve decidir por uma alta de 0,50 ponto percentual da taxa Selic, levando o juro a 11,25% ao ano. Mas não será suficiente e os passos seguintes poderão ser no mesmo ritmo até pelo menos janeiro de 2025 – quando o BC já estará sendo presidido por Gabriel Galípolo, escolha pessoal de Lula.
O ambiente político é difuso e ainda não há percepção de que Haddad terá o apoio necessário do Congresso, mas não é improvável e não está no centro da preocupação do mercado. Político nenhum não gosta de inflação alta e para evita-la, todos terão que participar da solução.
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