Açúcar na gestação aumenta risco de doenças na fase adulta, diz estudo
Estudo analisou os efeitos do racionamento de açúcar no Reino Unido imposto durante a Segunda Guerra Mundial
A temporada de festas está quase chegando e é fácil para o paladar doce de uma criança ficar selvagem. No entanto, uma nova pesquisa mostra que pode ser benéfico reduzir a quantidade de açúcar que as crianças pequenas consomem.
Um estudo publicado na sexta-feira (1º) na revista Science descobriu que reduzir o açúcar nos primeiros 1.000 dias após a concepção — desde o início da gestação até os 2 anos de idade — pode reduzir o risco de doenças crônicas na idade adulta da criança.
Os pesquisadores descobriram que reduzir o consumo de açúcar nessa janela diminuiu o risco de diabetes tipo 2 em cerca de 35% e o risco de pressão alta em cerca de 20%. Eles também encontraram um atraso no início da doença de quatro e dois anos, respectivamente.
A equipe de pesquisa analisou dados de antes e depois do fim do racionamento de açúcar da Segunda Guerra Mundial no Reino Unido, em setembro de 1953.
Em janeiro de 1940, o Reino Unido começou a racionar para permitir “cotas justas” de alimentos para o país durante a escassez de guerra, segundo os Imperial War Museums. O acesso a alimentos como açúcar, gorduras, bacon, carne e queijo era limitado.
Quando o racionamento de açúcar e doces terminou, em setembro de 1953, o consumo diário médio de açúcar de um adulto no Reino Unido quase dobrou quase imediatamente, passando de cerca de 40 gramas para 80 gramas.
Os pesquisadores analisaram dados de saúde do UK Biobank, um grande banco de dados e recurso de pesquisa biomédica que acompanha pessoas a longo prazo, em cerca de 60.183 participantes nascidos entre outubro de 1951 e março de 1956, antes e depois do fim do racionamento, para determinar os efeitos de um aumento tão grande no consumo de açúcar.
“O racionamento de açúcar criou um experimento natural interessante”, disse Tadeja Gracner, autora principal do estudo e economista sênior do Centro de Pesquisa Econômica e Social da Universidade do Sul da Califórnia.
A análise de um período de seis anos mostrou uma redução de 30% no risco de obesidade para bebês concebidos ou nascidos durante o racionamento, com um aumento mais rápido da diabetes tipo 2 e hipertensão após o fim do racionamento de açúcar.
Limitar açúcar durante a gestação ajudar o filho a gostar menos de doces
O estudo também descobriu que limitar o consumo de açúcar no útero e na primeira infância pode reduzir uma “preferência ao longo da vida” por doces, com o racionamento in utero sozinho representando cerca de um terço da redução do risco.
“Somos projetados para gostar de coisas doces desde o momento do nascimento”, disse o Dr. Mark Corkins, chefe da divisão de gastroenterologia pediátrica e professor de pediatria da Universidade de Ciências da Saúde do Tennessee, que não esteve envolvido na nova pesquisa.
Por séculos, ele disse, os humanos recorreram às frutas para satisfazer seus desejos por doces, ganhando vitaminas e minerais ao longo do caminho. Agora, o açúcar foi refinado e concentrado a níveis tão altos que a maioria das pessoas prefere um pedaço de bolo de chocolate a um pêssego, disse ele. Essas altas taxas de consumo afetam rapidamente nossos corpos.
“Quando você consome mais açúcar, isso muda a maneira como seu metabolismo funciona e você começa a depositar e economizar”, disse Corkins. “Somos projetados para economizar comida em períodos de fome. Não temos mais períodos de fome, então agora armazenamos como gordura.”
Conforme as Diretrizes Dietéticas Federais dos Estados Unidos, qualquer pessoa com 2 anos ou mais deve limitar sua ingestão diária de açúcar adicionado a menos de 10% de suas calorias totais. Seguir essas diretrizes pode ser difícil, disse Gracner.
“Açúcar adicionado está em todos os lugares, mesmo em alimentos para bebês e crianças pequenas, e as crianças são bombardeadas com anúncios de TV de lanches açucarados”, disse Gracner. “Embora melhorar a alfabetização nutricional entre pais e cuidadores seja fundamental, também devemos responsabilizar as empresas para reformular alimentos para bebês com opções mais saudáveis e regular o marketing e o preço de alimentos açucarados direcionados a crianças.”
Os pesquisadores dizem no novo estudo que mulheres grávidas e lactantes consomem mais do que o triplo da quantidade recomendada de açúcar adicionado, em média, superando 80 gramas por dia.
Os Centros de Controle e Prevenção de Doenças dos EUA também alertam que muitas crianças de 1 a 5 anos não estão consumindo frutas e vegetais suficientes diariamente, mas consomem regularmente bebidas açucaradas.
Corkins diz que uma maneira dos pais reduzirem o consumo de açúcar em crianças pequenas é mudar seus próprios hábitos.
“A influência número um são os pais”, disse ele. “Eles veem o que seus pais comem e as crianças tendem a comer como seus pais. Se você quer que seu filho tenha hábitos melhores, você precisa modelar esses hábitos.”
Outras maneiras de reduzir o consumo de açúcar incluem substituir bebidas açucaradas por alternativas mais saudáveis ou eliminá-las completamente, e evitar ter alimentos e bebidas açucarados em casa, onde podem ser mais tentadores. A chave é praticar moderação ao consumir alimentos açucarados.
“Todos nós queremos melhorar nossa saúde e dar aos nossos filhos o melhor começo de vida, e reduzir o açúcar adicionado no início é um passo poderoso nessa direção”, disse Gracner. “Com melhores informações, ambiente e incentivos certos, os pais podem reduzir mais facilmente a exposição ao açúcar, para crianças e para si mesmos.”
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