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    Pessoas que nascem sem olfato respiram menos ar? Estudo responde

    Padrões respiratórios podem ser impactados pelos cheiros

    Jorge Marincolaboração para a CNN

    Uma noção que herdamos de grandes cientistas do passado, a de que o olfato é um sentido sem importância para os seres humanos, foi contestada por pesquisadores do Instituto de Ciências Weizmann, de Israel.

    Eles descobriram que as pessoas que nascem com anosmia, uma condição sensorial caracterizada pela perda total ou parcial do olfato, respiram de forma diferente daquelas que têm olfato.

    Isso significa que, se os padrões respiratórios são mesmo impactados pelos cheiros, uma série de problemas de saúde hoje associados à anosmia são, na verdade, causados por padrões alterados do fluxo de ar nasal, diz o estudo publicado na revista Nature Communications.

    Se,por um lado, o olfato é referido como resquícios de comportamentos primitivos por cientistas como Charles Darwin e Sigmund Freud, estudos associam a sua ausência à depressão, sentimentos de isolamento social e até morte prematura.

    “Existe a noção de que esse sentido é completamente sem importância e, ainda assim, se você o perde, muitas coisas ruins acontecem. Então parece um paradoxo”, resumiu o coautor Noam Sobel, professor no Weizmann, em entrevista ao The Guardian.

    Como foi feito o estudo sobre ausência de olfato e respiração?

    Distinguindo entre frequência respiratória e picos respiratórios • Lior Gorodisky et al., Nature Communications, 2024

    Para testar a hipótese de que o fluxo de ar respiratório nasal pode ser alterado na anosmia, os autores aplicaram um dispositivo vestível nas narinas dos participantes, que registra o fluxo de ar nasal em sessões de 24 horas.

    Os voluntários foram divididos em dois grupos: um de 21 pessoas com anosmia congênita isolada, e um grupo controle com 31 pessoas “normais”, no caso normósmicas.

    Durante as 24 horas do dia, os participantes usaram o dispositivo durante suas rotinas do dia a dia, inclusive trabalho e outras atividades físicas, tendo apenas o cuidado de registrar em um diário os horários de sono e vigília.

    No dia seguinte, eles retornaram ao laboratório, onde os dispositivos foram removidos e os dados baixados. As análises concluíram que os participantes com o olfato ativo fizeram mais inspirações nasais durante a respiração do que os com anosmia (sem olfato).

    Para assegurar que não apenas os cheiros presentes no ambiente influenciaram o resultado, os autores repetiram o procedimento, porém só com os normósmicos em uma sala sem odores. Nesse ambiente, as inspirações nasais diminuíram.

    Observações finais e limitações do estudo sobre pessoas sem olfato

    A perda do olfato por Covid-19 está sendo investigada pelos autores deste estudo • ua_Bob_Dmyt_ua/Pixabay

    Além dos dados obtidos dos vestíveis, os autores também observaram que os anósmicos pausavam mais suas respirações e, por isso, tinham menos expirações (saídas de ar do pulmão) quando comparados aos que sentem cheiros.

    Outra observação importante foi que, durante o sono, os participantes saudáveis tinham um pico maior de inalações de ar por minuto.

    Propondo que os fluxos nasais de ar são alterados em pessoas que não possuem olfato, a equipe aplicou um algoritmo de aprendizagem de máquina aos dados coletados, e conseguiu distinguir participantes com e sem anosmia em 83% das vezes.

    Apesar de trazer indícios robustos de que pessoas sem olfato respiram de forma diferente, o estudo ainda é muito limitado, afirmam os autores em um comunicado de imprensa.

    Primeiramente, pelo fato de a reduzida população analisada só incluir pessoas nascidas sem olfato, embora já esteja trabalhando com aquelas que perderam o sentido tardiamente, como é o caso de um grande contingente de egressos da Covid-19.

    Em sua pesquisa, os autores também não levaram em consideração a respiração pela boca. Ou seja, não conseguiram provar de forma direta que as alterações respiratórias das pessoas com anosmia causaram realmente problemas de saúde.

    Para Sobel, “a noção de que padrões de respiração podem ser realmente influentes não é tão absurda”, lembrando que o sinônimo de morte sempre foi “último suspiro”.

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