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    Parto em casa é seguro? Veja possíveis riscos e cuidados necessários

    Gisele Bündchen, que está grávida do terceiro filho, diz que pretende realizar o parto em sua mansão; veja o que entidades de saúde falam sobre o assunto

    Gabriela Maraccinida CNN

    A ex-modelo Gisele Bündchen, 44, está grávida do primeiro filho com o atual namorado, o professor de jiu-jitsu Joaquim Valente, 35. Segundo fontes da revista People, ela planeja realizar o parto em sua casa. Confira abaixo mais informações sobre essa modalidade, seus possíveis riscos e os cuidados necessários.

    O parto domiciliar é aquele feito no ambiente caseiro, seja de forma programada, seja por emergência. Geralmente, a gestante opta pelo parto em casa por considerar ser um local acolhedor e tranquilo, onde sua família poderá estar presente.

    “O parto domiciliar é feito de maneira semelhante ao parto no hospital. A paciente entra em trabalho de parto e ela vai ser assistida e acompanhada pela equipe que estiver na casa dela”, explica Beatriz Cristofaro Mantuan, ginecologista e obstetra na Clínica Paulista de Medicina Reprodutiva (CPMR), à CNN.

    O parto domiciliar pode contar com uma banheira com água morna, que ajuda a aliviar a dor das contrações na gestante, e deve ser acompanhado por profissionais especializados, como obstetra, enfermeiros e fisioterapeutas.

    Em alguns países, como o Reino Unido, dispõem de diretrizes de critérios de elegibilidade para o parto humanizado — como as gestações serem de baixo risco, proximidade de uma unidade de saúde, disponibilidade de transporte rápido, atendimento de equipe capacitada.

    No entanto, no Brasil não há essa regulação, independentemente de evidências científicas. Além disso, associações médicas e de enfermagem divergem em relação às recomendações do parto domiciliar.

    Ministério da Saúde e Febrasgo não recomendam parto domiciliar

    O Ministério da Saúde, através da Nota Técnica nº 2/2021, não recomenda o parto realizado em casa e defende o ambiente hospitalar como o local de maior segurança para o nascimento, “devido, principalmente, à disponibilidade de equipe assistencial completa, equipamentos para assistência emergencial, entre outros insumos tecnológicos.”

    A Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia (Febrasgo), com a Associação Médica Brasileira (AMB), também não recomenda o parto domiciliar e, em posicionamento oficial sobre o assunto, “reafirma o compromisso de ser sempre aliados de todas as mulheres grávidas no Brasil, defendendo que todos os partos no Brasil sejam feitos em condições de segurança adequada, dentro de Maternidades devidamente estruturadas”.

    Um estudo publicado no British Medical Journal, em 2010, avaliou o desfecho de 37.735 recém-nascidos sem malformações congênitas, comparando os partos atendidos fora dos hospitais (partos de baixo risco) atendidos por midwives, com partos de gestantes de alto-risco, atendidos por médicos em hospitais. De acordo com o estudo, a mortalidade perinatal relacionada ao parto foi 2,3 vezes maior nos partos atendidos fora dos hospitais.

    Outro estudo mais recente, publicado em 2020, sugere que nascer no hospital atendido por enfermeira obstétrica ou por médico, protege recém-nascidos de desfechos como convulsões e paralisia cerebral.

    “Os riscos são muitos altos de acontecer uma emergência e não dar tempo de salvar a vida desse bebê e da mãe. [No parto domiciliar] Não temos recursos o suficiente para tratar uma emergência, seja ela uma hemorragia, uma asfixia perinatal ou uma eclampsia, que é a convulsão na mãe, ou a necessidade de uma cesárea”, explica Monique Novacek, ginecologista obstetra da Clínica Mantelli, à CNN.

    Ao optar por um parto em casa, é essencial escolher um local com hospital de referência próximo para casos de emergência e é preferível que uma ambulância esteja presente no endereço. No entanto, mesmo tomando esses cuidados, há o risco de surgirem emergências e não haver tempo suficiente para chegar ao hospital. “Alguns imprevistos podem acontecer no momento do parto, mesmo quando está tudo indo bem na gestação”, acrescenta.

    Associação Brasileira de Enfermeiras Obstetras defende o parto domiciliar

    Por outro lado, a Associação Brasileira de Enfermeiras Obstetras (ABENFO), que congrega enfermeiros, obstetras e obstetrizes que atuam nas áreas da saúde das mulheres e do recém-nascido, defende o parto domiciliar e ressalta benefícios da prática para a gestante e para o bebê.

    Em boletim informativo publicado em 2023, a associação elenca uma série de evidências científicas que parecem indicar que o parto feito em casa “é uma opção segura, associada a menor risco de intervenções, menor chance de complicações obstétricas, com riscos perinatais comparáveis [ao parto hospitalar]”.

    “Utilizando dados de grandes estudos observacionais, que analisaram cerca de meio milhão de partos, é possível compreender que o parto domiciliar planejado não está associado a aumento dos riscos, seja para gestantes/parturientes de risco habitual, seja para seus bebês, havendo maior chance de partos fisiológicos”, afirma o boletim.

    O documento cita, por exemplo, duas revisões sistemáticas recentes, que avaliaram desfechos perinatais, obstétricos e uso de intervenções comparando partos planejados em domicílio com partos planejados em hospital.

    Uma delas, publicada em 2020, analisou 16 estudos e comparou o uso de intervenções e ocorrência de complicações obstétricas em aproximadamente 500.000 partos. Os resultados indicaram que gestantes que planejaram partos em casa, quando comparadas àquelas que planejaram partos hospitalares, sendo de risco habitual, tiveram menos chance de cesárea, parto instrumental, analgesia peridural, episiotomia, laceração de 3º e 4º graus, condução do parto com ocitocina e infecção obstétrica.

    A segunda revisão, publicada em 2023, analisou os desfechos de bebês em cerca de 500 mil partos domiciliares planejados incluídos em 14 estudos e não observou diferença estatisticamente significativa na chance de desfechos adversos (morte perinatal ou neonatal) entre partos planejados em casa ou no hospital.

    Cuidados necessários no parto domiciliar

    Muitas mulheres optam pelo parto domiciliar planejado por buscar um local mais prazeroso e familiar para o nascimento do bebê, além do desejo de evitar supostas intervenções médicas excessivas.

    Nesse caso, alguns cuidados são essenciais para que o parto domiciliar seja mais seguro. O primeiro passo é escolher a equipe profissional que estará no local no momento do parto.

    “É preciso conversar com os profissionais e ver se eles aceitam realizar o procedimento, além de saber se a gestação é de baixíssimo risco e avaliar todas as questões relacionadas ao bebê, à placenta e entender se a mulher não teve nenhuma complicação, se teve ou não parto de cesárea anterior”, afirma Novacek.

    É importante escolher uma equipe profissional capacitada em parto domiciliar, com treinamento específico para monitoramento de sinais precoces de complicações.

    Também é preciso avaliar se o bebê está bem encaixado para o parto natural e todos os exames pré-natais devem estar em dia.

    “A equipe médica que estará presente no local deve estar bem preparada para cuidar de emergências, ou seja, saber reanimar o bebê caso ele nasça com uma parada cardiorrespiratória, ter cuidados para casos de hemorragia, disponibilizar algumas medicações em casa também. Ou seja, tem que ser algo bem preparado”, orienta a ginecologista.

    O ideal é que os profissionais envolvidos no parto domiciliar sejam os mesmos do parto hospitalar, reitera Mantuan. Isso inclui, pelo menos, um obstetra, um neonatologista, equipe de enfermagem e fisioterapeuta.

    “Quanto maior e mais treinada a equipe, melhor”, afirma.

    Doulas também podem estar presentes para dar suporte à paciente, tanto físico quanto psicológico. “Elas podem acalmar, tranquilizar e realizar exercícios de respiração, por exemplo”, acrescenta Mantuan.

    Quando parto domiciliar é contraindicado?

    De acordo com Novacek, o parto domiciliar é contraindicado em gestações de alto risco, como em casos em que a mãe teve pressão alta na gravidez, diabetes gestacional, trombofilia ou caso faça uso de remédio controlado.

    “Pacientes que têm gestações gemelares e casos em que o bebê está sentado, ou seja, apresentações anômalas, apresentação pélvica transversa, bebês com mais de quatro quilos, alterações de placenta, histórico de cesárea ou hemorragia em partos anteriores também são alguns dos exemplos em que o parto em casa não é indicado”, afirma a ginecologista.

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