Dólar salta e se aproxima de R$ 5,60 de olho em juros dos EUA; bolsa interrompe recordes
Movimento de realização de lucros é natural após sequência de altas, apontam analistas
O Ibovespa, principal índice da bolsa brasileira, interrompeu nesta quinta-feira (22) uma sequência de fechaentos recorde, com investidores realizando parte dos lucros mais recentes.
Enquanto isso, o dólar reverteu as perdas da semana, encerrando em alta de quase 2%.
O movimento segue em linha com a força da divisa norte-americana no exterior, que abriu uma sessão com investidores analisando os novos dados econômicos em busca de sinais sobre a trajetória dos juros nos Estados Unidos.
Na quarta-feira (21), o Federal Reserve (Fed, banco central dos EUA), divulgou a ata da reunião referente ao mês de julho, quando decidiram manter os juros no patamar entre 5,25% e 5,5%, em tom de mais flexibilidade e abrindo a porta para um corte na reunião de 17 e 18 de setembro, como esperado pelo mercado.
O Ibovespa caiu 0,95%, a 135.173,39 pontos. Na última sessão, o principal índice da bolsa brasileira encerrou na maior alta histórica pelo terceiro dia seguido, com um ganho de 0,28%, cravando os 136.463 pontos.
“Após o rali de quase 14 mil pontos em 13 pregões, o Ibovespa refletiu uma natural realização de lucros, o que também ajuda para dar respiro aos indicadores técnicos, que já operavam em uma região sobrecomprada. Os volumes vinham se reduzindo nos últimos dias, o que também indicaria uma perda de força do movimento”, aponta Alexsandro Nishimura, economista e sócio da Nomos.
“As justificativas para a queda de hoje vieram a partir da reprecificação sobre os próximos passos das políticas monetárias nos EUA e por aqui. Nos EUA houve redução na perspectiva de corte de juros na reunião de setembro, de 0,5 p.p. para 0,25 p.p., o que ajudou para o avanço dos yields. Por aqui as falas de diretores do Bacen, Diogo Guillen e Gabriel Galípolo, foram interpretadas como mensagens mais dovish, buscando manter em aberto todas as possibilidades para o Copom.”
Apesar da retração no dia, o índice acumula valorização de 5,75% no mês de agosto.
Enquanto isso, o dólar encerrou em alta de 1,96%, cotado a R$ 5,5899. A moeda norte-americana reverte parcialmente as perdas da semana. No entanto, no acumulado do mês de agosto, o dólar ainda registra queda de 1,1 % frente ao real.
Cenário internacional
Mais uma vez os negócios são permeados pela expectativa quanto ao futuro da política monetária dos Estados Unidos.
Pela manhã, o Departamento de Trabalho informou que o número de pedidos iniciais de auxílio-desemprego nos EUA subiu para 232.000 na semana encerrada em 17 de agosto, ante 228.000 pedidos revisados para cima na semana anterior.
O resultado reforçou o argumento de que há um esfriamento do mercado de trabalho norte-americano, com operadores elevando as apostas de um corte de 25 pontos-base dos juros na reunião de setembro Federal Reserve — e não de 50 pontos-base, como chegou a ser precificado.
Neste cenário, os rendimentos dos Treasuries tinham ganhos firmes em todos os vencimentos, enquanto os índices de ações em Wall Street rondavam a estabilidade.
Cenário nacional
“Aqui na bolsa brasileira, além desse cenário macro mais otimista com corte de juros nos EUA, tivemos a volta do fluxo estrangeiro, que ajudou a levar o Ibovespa às máximas, além dos resultados corporativos divulgados recentemente, que trouxeram muitas surpresas positivas. A leitura positiva do mercado em relação a esses resultados foi um fator decisivo para a renovação das máximas no Ibovespa, que historicamente está barato, especialmente quando analisamos indicadores de valor como o preço-lucro”, aponta Bruna Sene, analista de renda variável da Rico.
No Brasil, as taxas dos DIs (Depósitos Interfinanceiros) acompanhavam os Treasuries, mostrando altas firmes. Os contratos precificavam neste início de tarde 85% de probabilidade de o Banco Central elevar a Selic em 25 pontos-base em setembro e 15% de chances de manutenção em 10,50%.
O diretor de Política Econômica do BC, Diogo Guillen, alertou pela manhã que se os movimentos de expectativas de inflação e de taxa de câmbio se mostrarem persistentes, os impactos inflacionários decorrentes podem ser relevantes e serão incorporados pelo Comitê de Política Monetária (Copom) do BC.
Além disso, o Banco Central (BC) vendeu todos os 12 mil contratos de swap cambial tradicional ofertados em rolagem do vencimento de 1º de outubro de 2024.
*Com informações de Reuters